quinta-feira, 9 de agosto de 2018

Reflexões sobre sonhar e querer fazer. Ou querer sonhar.

Quando era pequena, queria viver como a Ana dos cabelos ruivos, numa quinta idílica no cenário maravilhoso que era o frontão verde. Queria uma vida rodeada de paisagens naturais, caminhos ladeados de árvores e flores até à escola ou até à casa da minha melhor amiga. Queria uma quinta com animais, ovos frescos todas as manhãs, leite acabado de ordenhar da vaca, viver uma vida mais lenta, ter tempo e espaço para escrever e desenhar e pintar.

Eu identificava-me plenamente com a Ana, acima de tudo no facto de ser uma cabeça no ar que vive a vida presa à imaginação e muito pouco na realidade.
E é engraçado porque já dei mil voltas, mas acho que eu continuo a ser assim.
Só que a um outro nível. O nível das histórias de encantar das redes sociais.

Já me deixei deslumbrar por tudo isso, e tempos houve em que adoraria ser como aquelas bloggers que transcenderam e ganharam notoriedade e dinheiro e têm um emprego de sonho a trabalhar de pijama no sofá. Já achei que tinha de aprender a costurar, a tricotar, a pintar aguarela, gestão de redes sociais, fotografia, escrita criativa. E fiz muitas destas coisas cheia de vontade e intenção. Comprei cursos online, e-books, alimentei-me desta informação, entusiasmada. Ainda hoje tenho uns quantos por fazer, porque convenhamos... não há tempo para tudo.

Mas sinto por vezes que nunca me entreguei verdadeiramente a nada. Ainda exploro alguns destes meios criativos (sendo que a escrita e o desenho/pintura sempre foi o meu foco principal porque sempre adorei fazer) e acho que me vai apetecer sempre dedicar-me um pouco a tudo isto. Vou sempre gostar de trabalhos manuais e de fotografia e de escrever muito. E não há mal em gostar de tudo e ser interessada em muita coisa. Só acho que insisti nisto pelos princípios errados. Acho que queria a vida de algumas pessoas que seguia. 

Recentemente libertei-me da ideia de que este terá de ser um objectivo profissional, ou que me iria fazer mudar de vida. Sim, a mudança vem, mas há muitas formas de mudar. A mim tem-me ajudado a repensar, a procurar-me, e não tanto “isto agora tem de me preencher enquanto pessoa, senão não serei válida”. 

Tem sido um caminho algo frustrante este. Mas a verdade é que antes de procurar lá fora o que quero, deveria olhar para dentro de mim. E muitas vezes andei deslumbrada com o mundo que se vive do outro lado do ecrã, como se fosse o mundo da Ana dos cabelos ruivos. Como se, apesar da beleza, esse mundo não escondesse tristeza, frustração, solidão… A Ana era tão imaginativa porque precisava de um escape da sua vida de órfã. Eu sempre fui muito introvertida e não me dei muito bem com as convenções e com o mundo fora de portas, pelo que também vivia num mundo de fantasia.

Por isso agora quero mesmo é olhar para mim, para a minha vida, para os meus desejos e perceber o que quero, o que é para mim. E fazer coisas, do princípio ao fim. Devo-o a mim mesma, e aos meus. Mesmo que seja aborrecido ou sem objectivos. Será sempre especial porque é meu.

2 comentários:

Agridoce disse...

É fácil deixarmo-nos deslumbrar pelas "Anas" desta blogoesfera, como em tempo nos deslumbrávamos com os desenhos animados e as telenovelas...

No fim do dia, o que importa mesmo é a nossa vida e o que nos faz feliz. Ao longo dos anos fui assistindo aos teus diferentes projectos e experiências e acho que, mesmo que tenhas esse sentimento de nunca te teres dedicado verdadeiramente a nada, ou nunca teres levado nada até ao fim, acho que isso faz parte de ti e do teu percurso. Acho que sem isso não chegavas até onde estás hoje, e sem isso não ias conseguir fazer exercício de olhar para ti e perceber o que é realmente essencial!

Não te massacres... Não mereces :)

Analog Girl disse...

Querida Agridoce, ando há um tempo a fazer esse exercício de aceitação. Já tive momentos em que me senti bastante em baixo por não conseguir chegar lá ou não ser uma iluminada como tantas que por aí vejo. Às vezes sinto é que estou quase lá, que me podia ter esforçado mais ou ido um pouco mais longe. Agora fico só um pouco desorientada ao pensar que tenho 36 anos e continuo sem saber o que quero ser quando for grande. Mas certamente haverá um timing para as coisas surgirem, ou assentarem. Sei apenas que a vida muda e transforma-se frequentemente. Até lá eu só quero poder ter energia e paciência para não desistir das pequenas ideias e projectos. Podem nunca passar disso e não há mal nenhum também. Desde que me façam feliz... :)
Obrigada pelas tuas palavras