terça-feira, 21 de agosto de 2018

Andamos todas perdidas?

Para quem não me segue no facebook ou no Instagram, estou de férias. Para a semana estarei fora de Lisboa, mas por enquanto, estou por casa, a orientar as coisas devagarinho, a limpar a casa, a preparar a tralha para a viagem, tudo com muita calma. E pelo meio, fazemos manhãs de praia tranquilas com o Gonçalo, ele ainda dorme uma pequena sesta debaixo do chapéu e nós temos a ilusão de que podemos curtir a praia, tomar um banho de mar, folhear uma revista e apanhar uma corzinha.

Mas não era bem este assunto que vos queria trazer.
Hoje, quando fomos à praia, estava uma rapariga sozinha ao pé do nosso chapéu. Nós ficámos por lá cerca de 1h30, e neste tempo, ela foi ao mar uma vez, fumou bastantes cigarros e passou 95% do tempo ao telefone. Ora ligava a amigas, ora ligava à chefe, ora ligava a um cliente para combinar detalhes de um serviço qualquer... 

Enfim, passei a minha parca hora e meia de praia a ouvi-la desenrolar a vida e o dia-a-dia. Houve duas situações que me prenderam. Uma delas, em que a chefe lhe aconselha a ser mais assertiva com um cliente porque não poderia dar-lhe tudo o que ele pretendia no tempo que ele queria. Ao que a oiço falar com ele ao telefone como se estivesse chateada e prestes a insultá-lo, porque obviamente ela nunca soube dizer que não nem impor limites, então saíu-lhe um tom de voz mais agressivo do que seria de esperar. 
A segunda situação foi a que me fez ficar a pensar. Alguém lhe ligou a cobrar algo. Diria que é um namorado ou aspirante a namorado, que tentou contactá-la na noite anterior mas como ela se deitou cedo, não lhe retornou a chamada/mensagem/convite/whatever. E ela, ao falar com ele para lhe travar as inseguranças disse algumas frases que me ficaram... "epá, eu agora não olho para o telemóvel à noite, o que me está a fazer lindamente, devo dizer" e "eu ando a cuidar de mim, hoje levantei-me às 7h e fui caminhar, ando a ir ao ginásio, vim à praia sozinha...". E doeu-me um pouco o coração por ela. 

Não que houvesse algo de mal no que ela disse ou no que faz, pelo contrário (quem me dera voltar ao ginásio e ir à praia sozinha). Mas por perceber a insegurança por detrás de tanta actividade. Não sei se ela estaria a enfrentar uma depressão ou apenas a tentar dar alguns passos numa evolução pessoal. Como vemos tantas vezes nessa internet fora. Até na porcaria dos detox digitais e afins vamos nas modas (sim, eu assumo, o meu detox digital foi fraco e não rendeu nada, foi mais uma experiência para sentir que consigo, eu ainda não estou pronta para abdicar da distração que as redes sociais trazem, tal como não tenho estado preparada para fazer dietas e continuo com peso a mais).

Fiquei triste porque andamos todos a tentar encontrar um propósito, porque a internet e a vida digital nos trazem tanta informação, mas também tanta frustração. E aparentemente, nestas experiências pessoais, também não acrescenta propriamente algum conteúdo, porque muito disto é superficial. 

Aquela rapariga podia estar a deixar o telefone desligado à noite, mas é óbvio que não sabe estar sozinha, senão não teria passado todo o tempo ao telefone a falar com várias pessoas, e acredito que não tenha tirado prazer algum da sua passagem pela praia. 
Estamos todos a ser mordidos pelos bichos do mindfulness e da felicidade e seguimos os passos que nos sugerem na esperança de encontrar aquela faísca, aquele momento "eureka" e esquecemo-nos de viver, esquecemo-nos de olhar para nós e perceber se é mesmo aquilo que queremos e gostamos. Se calhar para ela o ideal seria ir a um shopping, e se calhar sairia de lá com a cabeça mais tranquila do que estar na praia sozinha apenas porque algum guru de auto-ajuda ou uma influencer dizem que é bom.  

Claro que sou a favor do melhoramento pessoal, mas também do auto conhecimento. Mas temos de saber o que gostamos e o que nos faz feliz. Comigo, quando estou muito confusa e cansada e stressada, ler é o melhor remédio. É onde sou feliz e estou plenamente tranquila, onde posso ser eu. E a partir daí posso decidir o que fazer a seguir. Mesmo que não seja a minha área de conforto. 
E sei que já sou uma sortuda por saber isto. Mas tenho pena, tenho tanta pena de não sabermos lidar connosco próprios. Estaremos perdidos? Seremos cegos a liderar cegos? Algum dia tudo isto fará sentido? 
Enfim, não procuro respostas, apenas queria partilhar esta reflexão convosco.
Se não voltar entretanto, boas férias para mim... ;)

1 comentário:

Cate disse...

Olha, comecei a ler um livro - que tem sido muito falado - que se chama "The Subtle Art of Not Giving a Fuck", e acho que fala muito sobre isso, sobre as mil preocupações que temos, metade delas que nem deviam existir, e que nos desgastam diariamente. Estou a gostar bastante: https://www.fnac.pt/The-Subtle-Art-of-Not-Giving-a-F-ck-Mark-Manson/a1239881.