quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

Lista de coisas absolutamente aleatórias que fiz este ano

 - Escrevi um plano de comunicação

- Fiz mais um workshop com a minha querida Laura e perdi-me em tintas, recortes e ideias (precisava de um todas as semanas é o que é)

- Fiz um pequeno projecto de 30 dias e só falhei um (e depois retomei)

- Atingi a quantidade de livros que queria ler no ano em Setembro e decidi deixar de estabelecer metas. Os livros são uma das maiores fontes de prazer da minha vida e quero que aí se mantenham. Obrigar-me a chegar a um número de livros não me faz feliz. E realizar isto e libertar-me disto foi incrível.

- Fiz um workshop de intuição 

- Explorei o tarot

- Comecei e desisti de ter um bullet Journal (mas diverti-me imenso no processo)

- Voltei a casa nas férias

- Juntei-me a um grupo fantástico criado pela Ana e que salvou o isolamento inicial e em tantos outros momentos ao longo do ano

- Fui a Alcobaça e visitei o mosteiro. Tive saudades dos meus tempos de escola e das visitas de estudo

- Vi a exposição do Ai Wei Wei e (re)descobri que a minha bisavó trabalhou no espaço da Cordoaria Nacional

- Voltei a correr, mas foi só uma vez

- Reencontrei ao vivo e a cores uma amiga querida

- Voltei a pintar com guache

- Escrevi muito nos meus diários (tenho cadernos para tudo)

- Usei um bikini (há uns 3 ou 4 anos que não usava)

- Fui ao meu limite, chorei muito, angustiei-me e tive um ataque de pânico. Fui pela primeira vez em 30 anos ao psiquiatra e deixei que me tratasse. Estou tão melhor desde aí.

- Comprei uma cápsula reutilizável para a máquina de café e noto uma diferença gigante na quantidade de lixo que se faz

- Senti-me muito muito grata pela minha família e pelo meu filho. Foi muito aquele sentimento do stop and smell the flowers

- Estou aos poucos a reparar a minha autoestima e está a ser um processo interessante

- Voltei a escrever por aqui!

terça-feira, 7 de dezembro de 2021

Reflexões de fim-de-ano (parte 1?)

 Tenho tido alguma dificuldade em voltar aqui e escrever. Este blog não foi o meu blog mais profícuo mas ainda assim anos houve em que escrevia muito, longos posts, apostava nas imagens e tinha algum cuidado na escrita e algures perdi essa vontade. Nas redes sociais estou a sofrer do mesmo desgaste. Não sei se é de sentir que este blog perdeu algures a sua essência, se é do design que ainda não me satisfaz (um designer é sempre o seu pior cliente - e na verdade, sempre que projectei melhorias visuais no blog ficava pela metade), ou se o facto de trabalhar em conteúdos e redes me faz esgotar a minha veia criativa nas minhas coisas. E sinto-me um pouco triste por isso. Gostava de conseguir apostar em conteúdo mais curado e visualmente mais atrativo neste blog, não quero desistir dele e na verdade escrevo tantos posts mentais e tenho várias ideias, apenas me falta vontade de me organizar e o hábito de voltar aqui a escrever.

Em compensação, no mundo offline as coisas estão um pouco mais ricas. Tenho-me permitido parar e reflectir um pouco sobre tudo e sobre nada, suspendi deliberadamente os livros todos que tinha em aberto, um pequeno exemplo de como as coisas que costumava adorar não me estavam a trazer alegria. Não foi só do esgotamento físico e emocional, acho que me sobrecarreguei e quando me permiti parar, comecei a desfiar a sequência de pensamentos e ações que me trouxe aqui, ao final de um ano complicado, e de 3 anos de longa luta interna. 

E quis muito guardar mais conhecimento, alimentar a mente, e isso também me esgotou. Ler deixou de ser apenas prazer, também era ganhar conhecimento, estudar, elaborar, explorar. Acumulo cursos online que não vejo nem ponho em prática. Estou mesmo naquela situação tramada de "tanto para fazer, e tão pouco tempo para o fazer", que a certa altura desliguei. 

Menos é mais, também na nossa vida, não só no design. E percebi que eu tenho uma tendência aguda de acumular coisas. Livros, ideias, artigos de papelaria, aguarelas, papéis, ebooks, recursos gráficos que nunca preciso... You name it! Para além de que a casa não é só minha e também tenho outros pequenos acumuladores por aqui. Tudo está a rebentar pelas costuras. 

Então parei. Desliguei. Parar de ler por uns tempos foi importante porque a leitura sempre tabelou a minha vida. Um livro é um bom amigo não é? Mas até as boas amizades beneficiam de algum espaço. E tenho saudades, é um facto. Saudades de ler pelo prazer que traz, não por outros benefícios extra, ou para alimentar o ranking anual de livros que defino no goodreads (decisão para 2022, não vou estabelecer uma meta de leitura).

A vida digital, as apps para tudo e mais umas botas que deveriam ser úteis, tornam-se quase uma obrigação e deixamos de fazer as coisas pelo prazer de as fazer. Compramos, acumulamos, porque queremos ver, conhecer, explorar. Mas depois é demasiado. 

Estou a aprender a limpar a minha cabeça, a minha vida, as minhas estantes. Há tempos mudei as mobílias de lugar, e fiz planos para o quarto dos miúdos. Vai implicar uma boa escolha, e há meses que tenho sacos no meu carro de coisas para me desfazer porque já não cabiam na arrecadação. Percebi que está na hora de me livrar de algumas coisas que não têm interesse nenhum manter, mesmo que tenham sido significantes para a minha vida em algum ponto. Não quero continuar a carregar pesos. E isto tem sido válido para as coisas que acumulo, como para situações com que não me identifico.

Recentemente fechei um capítulo da minha vida. E penso com assombro como este capítulo se fecha agora, quando decido por fim a uma série de comportamentos, pensamentos e atitudes que não me fazem bem. Quando decido que em 2022 está na hora de deixar a vitimização de lado, e de começar a recuperar o gozo, a vontade e a determinação para levar a vida a outras paragens. Como diz a Catarina Beato, a vida resolve-se sozinha, e eu sem saber bem como, cheguei a um ponto em que consigo olhar para trás, e, mesmo com trabalho por fazer, começo a ver a aprendizagem que trouxe comigo neste caminho sinuoso. Daqui para a frente há uma nova fase da vida por viver. E estou grata por tudo isto. a

terça-feira, 24 de agosto de 2021

Entretanto, entreter!

 Agosto está a ser um mês surpreendentemente calmo. Os dias desenrolam-se ágeis e tranquilos. Está a ser um mês lento e rico. Depois de uma semana nas paisagens da minha infância e de tensões familiares meio loucas por sermos tantos numa casa só, a verdade é que deixou saudades e uma melancolia muito forte. Regressei com a sensação que nunca deixei de ter 16 anos, mas com a vida de uma mulher de 39 que, no regressar de férias está ainda mais caótica do que quando partiu.

Pensei que me ia afogar quando, na segunda quinzena ficasse entregue à casa e ao miúdo (nas férias da escola), a tentar dividir mal e porcamente o meu tempo entre trabalho e filho (e algumas lidas domésticas básicas, tipo arrumar a loiça da máquina e fazer as camas). 

Mas optei por me render, e não sei, tem corrido bem. Alguns dias mais acelerados, mas no geral a coisa decorre a um ritmo razoável e suportável. Consigo ter momentos de trabalho com o Luccas Neto como pano de fundo, gerir as birras e pedidos de atenção do meu filho, manter os mínimos da produtividade a decorrer, e ainda dedicar-me o suficiente ao pequeno de uma forma tão calma e fluída como nunca tinha sido possível antes. Nunca fui uma mãe descontraída, mas ando a aprender a sê-lo, e a compreender que posso mudar a minha narrativa a meio da história se quiser. É incrível o que acontece quando aceitamos as coisas inevitáveis e as encaramos de frente.

Um dia, com calma talvez vos fale que nos últimos dois, três meses me tenho dedicado com todas as forças ao autoconhecimento e exploração de mim mesma. Tive alguns picos complicados de conflitos mas quando liguei os pontos fez-me imenso sentido e abriu imensas fronteiras que julgava bem delimitadas, dentro de mim. E ajudou-me bastante a levar estes dias com mais leveza e tranquilidade, se bem que preciso urgentemente de tempo para mim e para escrever. Só falta uma semana (fingers crossed!)

Mas, o que queria muito falar neste post, foi o incrível fluxo de entretenimento rápido que devorei em pouco tempo e soube tão bem entregar-me à leitura, às revistas, ao desenho e à netflix com tanta tranquilidade enquanto navego os afazeres. 


Este mês li tanto, tão rapidamente, ando entregue a boa ficção e a boa leitura auto-exploratória - terminei o livro da Holistic Psychologist (com a pior tradução de título de sempre, mas com muito boa informação) - como já não me lembrava de o fazer. Devorei o "Biblioteca da meia-noite" maravilhada com a forma bonita e simples como o autor transforma a previsibilidade da mensagem numa história intrincada que nem sempre desvendamos o desenrolar; li não sem alguma angústia o "A minha irmã é uma serial killer", entre passagens divertidas e expectáveis, havia momentos de pura dor e humanidade tão intensa que me levaram a voar pelas páginas. Por fim, estou a ler também a boa velocidade o "Pessoas Comuns", que vi no instagram da tradutora,Tânia Ganho e a reflexão que fez acerca do mesmo me deixou curiosíssima e está a valer muitíssimo a pena (dois superlativos, é mesmo um bom livro). 



Devorei numa semana todas as temporadas do Workin Moms, que a Rafaela referiu na newsletter da YellowLand. A premissa parecia interessante e de facto não resisti a um binge louco desta série. Há algo de nonsense nas vidas daquelas mulheres e ao mesmo tempo é facílimo identificar-me com os traços de algumas personagens. O que gostei aqui particularmente, é que, à semelhança de outras séries icónicas com o foco em mulheres mais velhas, as personagens envolvem-se em esquemas e mentiras para resolver situações a seu favor, mas de uma forma mais leve e realista. No Donas de Casa desesperadas (que adorava, BTW) eles levavam tudo até às últimas consequências e eu enervava-me com tanta shadyness, o que não acontece aqui. Há tentativas de ajustar as narrativas à vida de cada uma, mas depois há choques bem mais realistas que obrigam as personagens a manter-se mais honestas. Adorei mesmo, e já aguardo a 6ª temporada com expectativa.

Agora vejo o Emily in Paris, que tem críticas razoáveis sem aspirar a ser uma obra prima, e tem sido uma viagem boa, que me enche de vontade de viajar de verdade, e já agora, de refrescar a minha abordagem às redes sociais (no que toca ao trabalho, ok?). 

Fun fact: já aterrei mais vezes em Paris do que em qualquer outro sítio e nunca, nunca fui visitar a cidade.  Estranho não é?

Estou a adorar este revisitar de séries só minhas na Netflix, enquanto devoramos também séries ou documentários de crime em família ou a miúda enche a lista de séries adolescentes. Tentei espreitar o The Bold Type mas malta, aquilo não é para mim, é demasiado oco e as personagens são todas iguais (e igualmente desinteressantes, a meu ver). E já estou a saborear a ideia de fazer um binge-watching das Gilmore Girls do início ao fim para aproveitar o outono.

Fora os livros, aproveitei para um pequeno investimento em revistas que queria muito ter: a Uppercase, a Cunning Folk (sugestão na newsletter da Cat) e mais uma edição especial de papel da Flow, tudo comprado na Under the Cover que tenho de ir urgentemente visitar ao vivo e a cores. Ainda não comecei a leitura mas já aprecio muito que ali estejam em destaque na sala para lhes deitar a unha sempre que possível.

Se chegaram ao fim deste post, obrigada pela paciência, mas sabe bem rever as coisas refrescantes que me têm animado os dias. Não sei quanto tempo durará este sentimento de tranquilidade desta slow-living, mas estou a gostar da viagem e não podia deixar de partilhar. 

Que o vosso Agosto esteja a ser tão prazeroso como o meu!

segunda-feira, 5 de julho de 2021

39

 Assentei os pés nos 39 anos sem grande vontade. Não costumo ser esta pessoa que não gosta de fazer anos e que se quer fechar do mundo um dia por ano. Eu sempre gostei de fazer anos e nunca me incomodou o envelhecimento. 

Mas nos últimos 2/3 anos tem sido difícil digerir o avanço da idade. O peso (muito) extra que teima em ficar, os cabelos brancos que já deixei de contar, acordar com dores no corpo só porque sim, um cansaço que avança no cérebro e me faz esquecer mais do que eu gostaria (ainda assim, mantenho uma orgulhosa memória de elefante). Talvez seja só a maternidade, que de facto mudou tudo e tornou os obstáculos da vida um pouco mais difíceis, assim como nos videojogos. Agora sinto que jogo no nível máximo de ansiedade e desconforto. Não creio que volte ao training mode. Mas também não sei se quereria. Há algo neste desafio que me faz ganhar mais garra e força do que antes e isso também me agrada.

Mas não é bem sobre isto que quero falar. Gostava de explicar a minha questão. Não tenho grandes problemas em envelhecer, durante vários anos da minha infância e adolescência até me senti muitas vezes como uma pessoa idosa num corpo jovem. Mas o peso do número 40 está a desequilibrar a balança. É que gostei mesmo MUITO da década dos 30 e não me apetece nada sair daqui. Tem sido uma década feliz, em que me tenho sentido uma power woman em tantos níveis. Talvez tenha medo de não saber mantê-lo na próxima década. Ou talvez, à luz da dificuldade que tive em ter entrevistas de trabalho e nem uma proposta sequer, tenho receio de não conseguir ganhar dinheiro para continuar a ser uma mulher independente. Eu sei que estou num projeto giro e inovador, sei que estou a fazer mais e melhor trabalho que alguma vez fiz na vida, mas inevitavelmente, perante tanta porta fechada fico preocupada. E claro, há ainda aquele medo da 'minha' startup não vingar e isto se desvanecer.

Isto talvez nos leve a questões pertinentes do quanto da nossa identidade é o valor que nos dão no trabalho. Vou ser sincera, sempre fui razoavelmente bem considerada no trabalho, mas nunca fui uma estrela ascendente a somar elogios e aumentos salariais. Eu sempre fui a pessoa sólida e confiável. E no geral sempre estive bem com isso, nunca aspirei a grandes coisas, na verdade, aspirei sempre mais à minha liberdade e ao meu espaço do que a ser uma workaholic. Mas sem dúvida que talvez confunda o valor do trabalho com o meu valor pessoal, ou não deixaria estas questões me afectarem tanto.

Fiz um exercício giro com a minha irmã, no dia dos meus anos. Em todas as décadas da minha vida consegui atingir sonhos e patamares a que aspirei. Até aos meus 10 anos pude ter uma irmã (temos quase 9 anos de diferença, pelo que foi um penoso processo de pedinchice aos meus pais), entre os 10 e os 20, pude escolher a área que queria estudar, fui para Artes e mantive-me determinada nessas escolhas, vivi em pleno uma adolescência feliz. Entre os 20 e os 30, comprei uma casa, saí de casa do meu pai, conquistei a independência. E nos 30... libertei-me de uma relação que já não funcionava, recomprei a minha casa, vivi sozinha, encontrei novamente o amor e tive um filho. Foi uma década épica, de força e de determinação.

Terei receio de não saber encontrar sonhos aos 40? De já ter atingido o meu pico? Ou de serem sonhos mais loucos e estratosféricos e tenho medo de brilhar? Ou então, numa nota terrivelmente obscura, a minha mãe morreu com 46 e essa proximidade das idades incomoda-me (não que ache que vou morrer aos 46 também, mas há um peso absurdo que fica e parece que fico em expectativa).

Não sei. Não sei, mas vou descobrindo devagar, aprofundar com calma. Hei-de perceber como manobrar este navio. Não preciso das respostas todas agora, preciso sim, de saber que isto também se resolve. E que este processo de desvendar e recuperar também pode ser épico e uma das minhas maiores forças. 

Portanto, parabéns a mim, e que os 40 sejam festejados em pleno. Para já, concedam-me esta pequena neura. 

terça-feira, 15 de junho de 2021

Ansiedade

 Há uns dias quebrei. Desatei a chorar numa tarefa qualquer mundana e um medo assolapado de que o meu filho me morresse encheu-me de uma angústia tremenda. Quando me tornei mãe percebi que carrego em mim todos os medos do mundo, a cada dia que passa sinto que tenho mais a perder porque, confere, passe o tempo que passar, o amor aumenta diariamente. Mas nunca tinha sentido esta angústia paralisante, dei por mim a chorar, a pedir ajuda a amigos e família, a exteriorizar este terrível medo que me comia as entranhas. Fui acalmando. Não controlo tudo na vida e certamente não sei o que o futuro reserva, mas viver assim não é opção. 

ansiedade pânico medo

Photo by Tonik on Unsplash


Não soube explicar a origem dessa dor, dessa angústia nervosa que me tomou de assalto. Continuo a não ter grandes luzes sobre o assunto. Apenas sei que ainda não me reequilibrei. Já tive um segundo episódio dias depois, e hoje, depois de uma manhã surpreendentemente calma e feliz ao entregar o Gonçalo na escola, dei por mim a chegar a casa e a sentir uma ansiedade a crescer no peito e um cansaço extremo ao mesmo tempo. Não estou aqui a rebolar na minha miséria, mas num assomo de consciência compreendo que isto ainda não acabou. 

Falamos tanto de saúde mental e de como andamos tomados de fadiga pandémica e de incerteza no futuro, e eu sinto-me o verdadeiro cliché deste discurso. E custa-me muito compreender e aceitar, mas se calhar está na altura de assumir que "eu não estou bem". Percebo que a morte do meu avô acordou algumas feridas que julgava estarem saradas, e 

Tomei uma série de atitudes e ando a delinear alguns planos: deixei de ouvir uma larga maioria de podcasts de crime, estava sempre a por-me no lugar dos intervenientes (todos), e a tomar as dores deles para mim. Tento não me encher de tarefas (o que é algo difícil na minha posição, mas tenho-me permitido abrandar um pouco sem lesar o trabalho, espero), procuro explorar uma paz inconsciente e tento meditar ou, no limite, parar um pouco para respirar fundo e estabelecer alguma paz.  Vou voltar a ficar sozinha em casa e quero voltar a fazer ioga ou qualquer outro exercício. Mas são planos que seguem com calma e ponderação, não quero piorar a achar que tenho de fazer mais e mais.

Por fim, faço por me rodear de inspiração (que me faça sentir bem e não uma fraude - todo um outro assunto para outro dia) e de palavras de força. Toda a ajuda conta na recuperação. Não estou nos meus dias mais produtivos, o futuro continua a construir-se e o mundo não abranda por nós, mas eu sei que tenho de olhar para mim e me dar algum sossego.

Porque partilho isto num blog que nem sei se ainda é lido sequer? Pois, não sei, só sei que partilhar ajuda. Sei que estas dores não são só minhas, e sei que a ansiedade tem dominado a vida de muita gente. Nunca me tinha sentido tão descontrolada, e imagino que como eu haja muitos. Só queria dizer que, se estás a passar por algo semelhante, não estás sozinh(e/o/a). E após escrever isto posso atestar que me sinto mais tranquila. Partilhar é vida mesmo, mes amigues.

quarta-feira, 2 de junho de 2021

"It's all happening!"

Sempre adorei esta frase icónica do Almost Famous. Apesar de ser um filme que me deixa uma sensação absolutamente melancólica, acho-o um retrato tão interessante daqueles tempos idos dos anos 70, da loucura das bandas e da música e das groupies. Se não viram, fica a sugestão, vale muitíssimo a pena, nem que seja pelos atores fenomenais que por lá andam.

Feito o preâmbulo, queria só aqui deixar estas palavras porque ultimamente na minha vida, ALL is happening. Coisas boas e más, coisas trabalhosas e que me drenam, outras que me renovam a energia. 

Há dias apresentei-vos nas stories do instagram o meu novo projeto profissional. Não é assim tão novo, uma vez que já estou há um ano a trabalhar nele, mas só agora viu a luz do dia e se tornou público, e o trabalho tem sido super intenso. Não me quero alongar muito, talvez um dia escreva mais detalhadamente sobre isto, mas apesar de curto e de ainda não saber o que o futuro reserva, tem sido essencial na minha reconstrução profissional. 

Comecei 2020 deprimida e frustrada por ter arriscado num novo emprego que se revelou ser uma má escolha. Um ano num emprego que me arrasou a vários níveis e me fez avaliar o meu percurso e arrepender-me de tantos passos lá atrás. Por isso, ter sido convidada para participar, e depois ter um papel cada vez mais activo neste projeto, ajudou-me a reconstruir a minha frágil auto-estima. Hoje posso dizer sem grandes hesitações que me sinto capaz, orientada e forte. 

Ainda assim, estou cansada, claro. Como tantos de nós. As consequências psicológicas da pandemia estão a fazer-se sentir com mais força a cada dia. A necessidade de férias, de voltar a separar as águas de casa-trabalho-família, de parar um pouco para só SER eu um bocadinho, de parar de produzir, tudo isto acumula-se em mim, e creio, em todos nós. 

No entanto, acho que tudo isto é bom, tudo é positivo. Estamos a crescer, tudo está a acontecer.

quarta-feira, 19 de maio de 2021

Overdose de vida digital

Sintomas:

- Ler artigos/blogs/seja o que for na diagonal;

- Aquilo que antes me dava prazer passa a ser um stress ou mais um item a riscar na checklist;

- Ter mil tabs abertos no chrome e ao final de alguns dias fechá-los sem sequer os ler/ver/ouvir;

- Uma lista gigantesca e crescente de podcasts que quero muito ouvir mas alguns vão ficar ali pendurados indefinidamente (os de true crime têm prioridade, lamento);

- noitadas mesmo quando estou cansada a ver séries na Netflix porque posso aproveitar o sofá, mas passo o tempo a jogar jogos de velha tipo mahjong no telemóvel, ou a trocar mensagens (muitas vezes de trabalho), ou a trabalhar enquanto ouço os diálogos;

- Ir ao instagram/facebook/twitter só para picar o ponto e limpar as notificações;

- Cursos online parados;

- Não conseguir ler as revistas que compro, muitas vezes porque levo o telemóvel para a mesa do pequeno-almoço;

- começar a considerar o meu tempo em frente à câmara do ecrã e do computador. Muito ângulo feio e limpeza nasal devem apanhar as câmaras dos telefones;

- Perceber que existem mais 50 programas de videochamada à distância e durante longos e felizes anos apenas conhecia o skype;

- Ter carregadores espalhados pela casa toda (e tirá-los das fichas para não desperdiçar energia).

Bem sei que por imposição das circunstâncias tivémos todos de nos adaptar e ajustar e viver uma vida mais virtual. Mas acho que ando a acusar o excesso de informação e imposições que tudo isto trouxe. Resolver as coisas no momento, dar resposta a tudo, estar a par de tudo. Quero voltar atrás mas nem sei bem onde começar. Voltar a fazer um detox digital? Apagar a conta do Facebook? O blog? As minhas contas de instagram? Fazer unsubscribe de dezenas de newsletters e apagar emails que não vou ler e os podcasts que não vou mesmo ouvir? Apagar apps do telefone? Sair mais de casa só para deambular (haja tempo)? 

Parece que para deixar de fazer e ver coisas tenho de fazer ainda mais. E mantenho-me na mesma. Por preguiça. Pura procrastinação. Dormência. Algo vai ter que mudar não vai?

sexta-feira, 14 de maio de 2021

Já não tenho avós

Esta semana começou como qualquer outra. Na verdade, bastante mais calma do que a semana anterior, pelo que estava a gozar o abrandamento do ritmo e levava a segunda feira com mais calma. Um dia falo-vos do projecto em que estou metida e a loucura que tem sido. 
O meu pai ligou-me depois do almoço e, ao melhor estilo de um bulldozer descarregou a notícia em mim "olha o avô morreu". Um baque. Um momento.
Falámos um pouco, por muito que esperemos, nunca estamos verdadeiramente à espera. O estado de saúde do meu avô podia descrever-se em números e mesmo assim não lhe definia a condição. O meu avô estava acamado há 5 anos, por causa de um AVC, venceu 2 cancros (tanto quanto sei), tinha Parkinson, estava há dois meses e tal no hospital, com uma pneumonia, apanhou COVID e mesmo assim conseguiu ser assintomático, apanhou uma bactéria hospitalar, perdeu sangue e recebeu transfusões. E foi-se aguentando, um magro e pálido exemplar do que já foi. Até já não dar para mais.

Outro número que posso acrescentar a esta equação é o facto de eu já não o ver há uns... 8 anos talvez? Não era propriamente uma zanga, não era ódio ou desprezo, apenas aceitação de que as pessoas da nossa família não são quem queremos e precisamos que sejam. E este meu avô partiu em desvantagem, porque o meu outro avô era o homem da minha vida. Por isso, depois de ter sido um personagem desestabilizador na harmonia da família, e ter armado confusões desnecessárias achei que era melhor manter-me afastada. Sem culpas nem mágoas. Apenas permitir que as nossas vidas seguissem os seus rumos.

Mas dói-me que ele tenha desaparecido. O meu avô foi mais amado do que talvez merecesse, tinha uma família grande, 3 filhos, 5 netos e 6 bisnetos. Teve uma mulher que o adorou a vida toda, mesmo depois de se ter separado dele. O amor de uma vida nem sempre é isento de dor, percebi isso com os meus avós. Não apostou nos filhos e castigou duramente quem não pensava como ele, quem não se encaixava no seu ideal. A linguagem de amor que conhecia eram palavras ríspidas e dinheiro, e no fim, quando perdeu tudo, sobrou-lhe o amor dos filhos e da mulher que infernizou a vida da minha avó (justiça seja feita, esteve sempre do lado dele, portanto talvez tenha sido amado por duas mulheres afinal).

Dói-me que a vida dele tenha sido assim, tão cheia de insegurança e conflito, de ideais antigos e mastigados que nem sei se ele verdadeiramente acreditava neles, que não tivesse sensibilidade para lidar com as pessoas. Dói-me que tenha sido um pai castrador, um avô autoritário e um marido negligente. Dói-me que não tenha visto a beleza e abundância da sua família e tudo o que ele fez contribuiu apenas para marcar conflitos e separar as pessoas. Mas ainda assim não nos separámos. Nem uns dos outros, nem dele. Dói imaginar que era preciso tão pouco para todos termos sido uma família mais feliz.
Dói que não tenha podido dizer-lhe que eu gostava dele e o perdoo. Mas espero que o saiba. 

E, numa nota mais egoísta, dói-me ter perdido todos os meus avós. Nos últimos 4 anos foram-se logo 3. Eu sei, doentes, envelhecidos, frágeis. A vida é mesmo assim, o envelhecimento é mesmo assim. Eu aceito a lei da vida. Mas dói-me esta perda, estas perdas, a solidão que deixam. Doeu-me esta última despedida. Um pouco da minha infância foi com ele. 

Somos as nossas histórias. As histórias dos outros com quem nos cruzamos. Ele leva um pouco da minha. Eu partilho um pouco da dele.
Até logo avô.