"...Nos corações dos que a amavam, da família, dos amigos…" Ficaram-me estas palavras do padre, uma cerimónia bonita e tranquila, num dia de sol, quando nos despedimos dela.
A semana começou em paz no entanto virou rapidamente um turbilhão de emoções. A minha avó morreu. A minha avó Nazaré.
Uma pessoa que parecia tão frágil e que superou tanto. Que nos enganou a todos, que nos fez acreditar que era mais forte do que aparentava e que por isso a julgávamos invencível. E, na passada terça feira, acordámos para uma realidade sem ela. A realidade em que ela não acordou. Ela estava bem, em paz finalmente, sem dores nem limitações. Nós nem por isso.
A minha relação com a avó Nazaré teve altos e baixos. Ela desafiava-me. Não se continha em críticas e opiniões. Era dura e não escondia o que sentia. E se vezes houve em que senti que não correspondia aos padrões dela, a verdade é que quando cresci, era visível o orgulho e respeito que ela tinha por mim. Não diria que a nossa relação era a mais especial, mas era nossa, com as suas particularidades e especificidades. Ela ensinou-me muito sobre a vida, e uma das maiores lições que tiro da minha convivência com ela, é que somos apenas humanos, que temos fraquezas, e que ser adulto não significa fazer tudo bem, mas que temos de nos aceitar e às nossas limitações. E está tudo bem. Há amor nos nossos actos e isso é que conta. É isso que fica.
A minha relação com ela ajudou-me a definir quem sou de muitas formas. E estou tão tão grata por a ter tido na minha vida que não tenho palavras.
As saudades sufocam e agora tenho de viver com elas e com memórias e histórias. Fazer por não me esquecer da suavidade da sua pele perfeita, das unhas impecavelmente pintadas e arranjadas, do seu cheiro e da vivacidade no olhar, que nunca desapareceu.
Perdê-la foi um golpe muito duro. Nestes dias, encarar a realidade sem ela, pontuada por inúmeros carinhos e festas na minha barriga e desejos de felicidades e uma hora pequenina foi dos momentos mais estranhos que já vivi. Não compreendo ainda o conceito de dar-lhe um bisneto, aquele que ela acreditava que ia ser o primeiro mas afinal seria o quarto, e ela não estar cá para o conhecer quando nascer. É algo que ainda não assimilei, mas terei de aceitar. Será mais uma avó sobre quem contar histórias. Que partiu, mas deixou tanto, e ficará para sempre comigo.
3 comentários:
Um grande beijinho nos dois corações que batem dentro de ti.
*abraço apertado*
Lamento muito. Um abraço!
No dia em que perdi a minha avó perdi um bocadinho de mim. Já se passaram quatro anos e ainda tenho esperança que ela volte. Uma saudade que corrói a alma e todas as histórias que conto sobre ela parecem que não lhe fazem juz. Mas eu tento, relembro-a constantemente em mim: no que digo, no que penso, no que guardo. E sei, no fundo das lágrimas, da perda, da saudade, que calhou-me a sorte grande no dia em que fui escolhida para ser neta dela.
Perder uma avó é perder um bocadinho de nós. Mas ter uma avó, é ganhar o mundo inteiro.
Força *
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