sexta-feira, 6 de julho de 2018

Diário de um pseudo-detox digital

Um dia e meio, dois dias

Antes de dormir, no dia 4 de julho, pelas 23h, apaguei todas as aplicações de redes sociais do telemóvel (bem, quase todas, deixei as que não me causam tanta dependência): facebook, gestor de páginas do facebooktwitter e instagram. Apaguei também o snapchat, que raramente uso (aliás, estou mesmo à beira de fechar a conta – se calhar é desta), numa de não me deixar tentar. Não apaguei o LinkedIn, o Bloglovin nem o Goodreads porque raramente lá vou. Nem o Pinterest porque uso para trabalhar e nesta fase para procurar ideias para a festa de aniversário do ano. Mas em relação ao LinkedIn, no trabalho tenho tendência a abrir a página, pelo que fiz o compromisso comigo mesma de não abrir nestes dias- não custa assim tanto, se bem que sinto falta de ler um artigo aqui e acolá.

E assim ontem acordei para um mundo sem redes sociais. Na verdade não me custou particularmente à primeira. Não tenho tempo para correr as redes logo de manhã, com o meu pequeno humano a acordar mais ou menos ao mesmo tempo que eu. 
Reduzi a minha rotina matinal ao essencial para não ter de perder muito tempo: levantar, vestir-me, lavar a cara e os dentes, preparar marmitas (minha e dele), prepará-lo. Se puder, coloco a tralha toda no carro antes de ir buscar a criança, se não puder, carrego tralha e criança junta (isto conta como musculação?) e vamos lá. Portanto o telemóvel só me serve para controlar as horas (tenho mesmo de comprar pilhas para os meus relógios e voltar a usá-los – talvez seja mais um incentivo a olhar menos para o ecrã).

O telemóvel começa a fazer-me falta quando deixo a criança na tia avó e faço o meu percurso de 5-7 minutos a pé até ao trabalho. Normalmente ando pelo bairro e vou espreitando o twitter ou o instagram. Paro no semáforo e vou verificando as notificações diárias do facebook. Não fiz nada disso. Não havia lá nada para ver. Então tratei de ir caminhando com calma até ao trabalho sem olhar mais para o telefone. Eu e os meus pensamentos. E sabe bem deixá-los desfilar pela cabeça sem os calar ou ir postá-los numa qualquer rede social. Apenas deixá-los ir e vir. É assim uma espécie de quase meditação.

Durante o dia, e tendo em conta que o trabalho está mais escasso nesta época, a tentação para espreitar as redes é maior, mas foi um dia de reuniões e coisas para fazer, pelo que não dei pela falta. Apenas acontecia por vezes pegar no telefone e olhar para a pasta das redes sociais e ver que não estava lá a trilogia de redes que me sugam o tempo, e desistia. Subsistia um sentimento de ausência, mas não me senti ansiosa nem com fomo, estranhamente, mas estava muito mais solícita para responder a mensagens e a verificar mais vezes o e-mail  (estava numa troca importante de e-mails, não perdi mais tempo a ver as newsletters desnecessárias do costume, aliás, ando a desfazer-me de uma data de newsletters que não me interessam para não ter a caixa sempre cheia).

À noite tive o ipad (ainda com as aplicações) disponível, mas limitei-me a ver um pouco de tv, a começar uma série no Netflix (esta), e a ler. Quando me deitei limitei-me a por o despertador no telemóvel, uma vez que não havia mais nada para ver. Li mais um pouco e adormeci tranquila.
As noites ainda são muito imprevisíveis devido aos despertares do meu filho e à amamentação. Eu já estou muito habituada ao ritmo e muitas vezes dou por mim acordada a meio da noite sem sono. É nesta altura que tenho o péssimo hábito de ir verificar o facebook e o instagram (e se tiver notificações, também espreito o twitter). Mas não dava, o resto do mundo estava em silêncio e adormecido. Era estranho. Ainda ponderei manter a luz acesa mais um tempo e ler, mas não queria incomodar. Apaguei a luz a pensar que ia ficar um bom bocado a olhar para o vazio, mas não, adormeci num ápice. Isto para mim foi mesmo uma descoberta. Toda a minha vida foi povoada de insónias e sonos leves e despertares inesperados. Já dei muita volta na cama sem conseguir pregar olho, e nesta fase pura e simplesmente nem dou hipótese ao sono, vou logo adiar essa possibilidade com luz artificial e conteúdos desnecessários, com a desculpa que eu sou mesmo assim, e dali a alguns minutos já me dá o sono, tenho é de me entreter…blábláblá

Pela primeira vez não tinha outra hipótese senão dormir. E pasme-se, dormi bem (ainda que por pouco tempo, claro). 

Durante muito tempo achava que era imune àquilo que se dizia de manter o telefone longe do quarto, porque eu já não o usava mesmo muito e com a criança a acordar as noites eram mais complicadas e precisava de ter o telemóvel e as redes àmão para combater esse isolamento de mãe, mas… isso é uma grande treta. Se não conseguir dormir, levanto-me e vou ler ou seja o que for para a sala. Ou deixo-me ficar porque pelos vistos… eu adormeço sim!

Ainda dou por mim ainda a espreitar o telemóvel, a olhar para os espaços vazios onde antes estavam as aplicações, a verificar o e-mail. Quero que a frequência diminua mas ainda não noto diferença. 
Mas sinto que quero aproveitar os momentos. À hora de almoço esperei por uma colega e decidi sentar-me ao sol à porta do escritório. Vi apenas um e-mail da minha irmã e fiquei ali a aproveitar o calor e o momento. Pus um pouco de protector solar, vi as pessoas a passar, as conversas ao longe, toda uma agitação e eu parada e tranquila. E lá está, o que me surpreendeu foi mesmo a espontaneidade e facilidade com que o bem-estar nos invade se simplesmente procurarmos o que nos faz sentir bem e usufruirmos disso sem peso e sem culpas.

Algo me diz que esta experiência vai ser interessante. 
Para já está a ser bastante bom sentir que conscientemente vou aproveitar os momentos vazios para os viver realmente e não me perder nas distracções digitais. Em breve conto mais desta experiência.

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