sábado, 10 de janeiro de 2015

No ano dos hoverboards, eu viajo ao passado



Há livros que fazem sempre sentido. Tenho começado a ler muito mais este ano do que no ano passado. A minha lista de livros lidos em 2014 decresceu consideravelmente e este ano quero recuperar o fôlego e voltar a perder-me noutros mundos. Isto para além de também querer incrementar os meus conhecimentos, e aproveitei o facto de me ter oferecido um ipad para o encher de livros sobre variadíssimos temas que me interesso, sejam na minha área profissional, como alguns de culinária e nutrição, desenvolvimento pessoal, etc....

Mas estou a perder-me. Dizia eu que ando já a insistir nos meus hábitos de leitura este ano, leio na cama todos os dias, leio ao pequeno-almoço, enfim. Fico contente, porque neste aspecto estou a começar bem o ano.
Há dias, em arrumações, descobri enterrados numa estante os livros que fizeram a minha infância vibrar: A Floresta e o O cavaleiro da Dinamarca da Sophia de Mello Breyner Andresen. E não resisti e um dia desta semana resolvi pegar n' A Floresta e reler. E, como das outras 30 vezes que li este livro, perdi-me. 

Ler os livros da Sophia é uma verdadeira viagem ao passado. Quando leio as palavras dela deixo-me deambular nas memórias das leituras passadas, e lembro-me de uma maneira tão vívida e real como é ser criança. Porque os anos passam e as tarefas e o stress parecem ter-se ocupado de todo o meu tempo, parar e ler a Sophia fez-me lembrar como era sonhar, como era acreditar que realmente pudessem existir seres fantásticos e mistérios insondáveis no mundo. A maneira como ela descrevia os ambientes que rodeavam a história, pareciam conter outras histórias que ela não contava e ficavam ali à espera de serem desvendadas pelos jovens leitores, e acho que essa era a maior magia da escrita da Sophia. 

O seu mundo repercutia-se em todos os passos do meu crescimento, e em particular relembro as brincadeiras que eu e a N., a minha melhor amiga, inventávamos nos recreios. O pátio calcetado do colégio, as colunas da entrada da casa da D. Luísa, as plantas nos vasos e as árvores que nos rodeavam, os cogumelos que cresciam no tronco da árvore, tudo nos alimentava a imaginação e abrilhantava a nossa fantasia, de tempos idos, de histórias românticas e heroínas fortes, de amigas que, ao final de 26 anos ainda estão tão próximas e unidas como antes. 

Lembro-me como era fácil criarmos o nosso canal de tv, a TV Clic, como vivemos (e fugimos várias vezes) num orfanato ao género da Ana dos cabelos Ruivos, como viajámos até ao espaço e como fugíamos de situações arriscadas. Como desenhávamos os cenários das nossas brincadeiras, inventávamos publicidade em cartoons e como escrevíamos febrilmente na esperança de um dia termos livros publicados. E como esses sonhos pareciam tão fáceis.

Mais uma vez reforço, este ano não tenho resoluções, mas vou ter de criar espaço para me deixar levar, para criar novamente. Para me perder nos projectos que ficaram em suspenso e para procurar novos caminhos e lembrar-me simplesmente de sonhar como quando era criança e tudo era possível. E deixar-me levar pela loucura do processo criativo. Olhar para mim no passado, e se for preciso, chatear a N. para voltarmos a rir e a disparatar, que se reflecte nas melhores memórias e ideias de sempre.

E tudo isto após cinquenta ou setenta páginas de memórias perdidas.
Não há dúvida que o passado é a minha maior inspiração.

3 comentários:

Merenwen disse...

Este livro traz-e tanta recordação boa! Sophia será para sempre. E a ver o teu post dei-me conta que já não tenho um único livro dela! Ora aí está um bom investimento pra breve ;)

Ana Burmester Baptista disse...

Este é o meu livro preferido da Sophia - foi o primeiro que tive - e ainda hoje gosto de passar os olhos por ele. Lembro-me perfeitamente das horas que passava a ler, a divagar e a sonhar. Este também é um ano em que quero ler mais.

Catarina (Joan of July) disse...

És tu e eu; também me inspiro no passado e permito que ele me inspire todos os dias.
A Sophia faz parte de algumas (boas) memórias, mas acho que o livro pelo qual mais me perdi foi o da Fada Oriana, talvez pela altura em que o li. :)

www.joanofjuly.com