quinta-feira, 8 de março de 2018

Este é o post que ando a escrever há semanas e não termino...

Queria escrever mais no blog mas não consigo. Sinto que se perdeu um pouco o objectivo. Já não desenho nem pinto nem crio. A minha cabeça faz planos mas as minhas mãos e corpo não conseguem acompanhar.

Não escrevo tanto porque ando triste. A morte da minha avó foi um golpe duro de roer e tentei escrever tanto sobre isso que me desalentei em exaustão de saudades. 

Não durmo, a maternidade está a ser um desafio constante ao nível do sono. Tenho pouco apoio da minha cara metade, não porque ele não queira, mas porque temos horários incompatíveis. 

Voltei ao trabalho há um mês. E agora até gosto de segundas feiras. No trabalho a mente descansa e foca-se. E não há falta de sono que me tire a vontade de escrever.

A maternidade é neste momento (ainda) uma grande parte de mim (creio que será sempre mas fui arrombada com a violência deste amor). Há dias em que quero mais bebés, no plural. Há outros em que quero apenas o meu pequeno Gonçalo e não quero fracturar o meu coração em mais pedaços de tanto amor porque não sei se aguento. E eu também quero ter-me a mim de novo. 

Escrevo textos melhores na minha mente do que o são no blog ou no meu diário. Escrevo muito mais na minha cabeça que no papel. Mas quero escrever.
O meu blog está diferente. Eu estou diferente.

Mas vou continuar a escrever. Porque eu gosto tanto de o fazer. Porque quero partilhar o que penso. Assim, sem grande objectivo e rumo.
Espero que me perdoem a mudança de direcção . Eu quero continuar a escrever mas o blog não pode ficar igual. Vai navegar ao sabor da minha vida.  

Vai ser bom.
E eu quero regressar.

mulheres

Dispenso flores neste dia. Dispenso desejos de “feliz dia”, dispenso presentes e promoções de lojas só e apenas dedicadas às mulheres. Eu hoje só queria sentir compreensão, carinho, reconhecimento. Permitam-me o desabafo... é difícil ser mulher, e se se for mãe acresce mais um nível de dificuldade, e se não há direitos, acresce ainda mais, se nasceste no lugar errado, ainda mais. Ser mulher é como os níveis mais difíceis dos videojogos, com os piores bosses. Não é possível existir uma igualdade plena porque os géneros serão sempre diferentes, as responsabilidades diferentes. Ainda assim, merecemos igualdade de oportunidades, de salários, de tratamento, de reconhecimento. Fazemos sempre mais e estamos sempre a dar provas de tudo. E não faz sentido. E hei-de sempre questionar isto. Ao mesmo tempo que assumo todo o meu quinhão de responsabilidades “femininas”. Com todas as contradições que isso implica. Eu sei. É complicado e por vezes muito parvo. 

Mas eu tenho sorte. Cresci em liberdade. Posso votar. Posso abortar. Recebo o meu dinheiro. Tenho o meu emprego. A minha casa. O meu carro. Os meus livros e as minhas coisas.  Tenho muito. Tenho oportunidades. E ideias, e projectos e vontade. Tenho tanto e estou tão grata. E ao mesmo tempo ainda falta tanto para me sentir igual aos homens.
Este dia ainda faz sentido. Para mim e para todas as mulheres. Para as minhas mulheres. As que me antecederam, as que me precedem, as que me acompanham. Mães, avós, irmãs, amigas, tias, primas. 
E agora, música.




segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

Pretérito perfeito

Daqui a 7 dias vai fazer 9 anos que escrevi este post, no meu blog anterior. Estive a manhã toda à procura deste texto porque julgava que já o tinha publicado aqui na box. Fico tão feliz por tê-lo encontrado.
Porque este ano, daqui a 7 dias, eu poderia repetir quase tudo o que escrevi, mas já só posso escrever no pretérito perfeito e não no presente. Hoje vim trabalhar com o vazio dela presente em mim. A saudade dói-me na alma. Em menos de um ano despedi-me das minhas avós. Estou cansada disto, de ver gente a morrer, de me despedir. Ficam as palavras do orgulho que sempre senti dela. Da minha admiração.
E prometo um regresso um pouco mais feliz para breve. Para já, o eco dos anos passados...

“ A minha avó faz hoje 77 anos. Apetecia-me dar-lhe 77 rosas brancas, 77 beijinhos, 77 abraços, e, porque não, 77 chocolates, porque ela é gulosa como eu. 
Tem um feitio tramado a minha avózinha, diz o que lhe passa pela cabeça e não pensa nas consequências, que às vezes se viram contra ela. Fuma e ouve a televisão muito alto, porque os ouvidos já não são o que eram. Cozinha divinamente, sempre com muita gordura, e tem o colesterol muito alto como dita a genética (coisas que eu e a M. herdámos também), mas que até agora nunca causou nenhum problema. Diariamente sai de casa, desce o 2º andar pelas escadas, caminha 1km até ao centro comercial ali perto onde compra o jornal e volta para casa. Como dorme poucas horas por dia, costuma dormitar à tarde depois do telejornal, às vezes até durante as novelas preferidas dela.

É a mulher mais corajosa que conheço. 
Abrigou a minha bisavó até quase ao fim da sua vida, mesmo trabalhando e tendo três filhos para criar, tomou conta da prima viúva que não tinha filhos quando o cancro a estava a corroer e ficou com ela até ao último minuto. A minha avó vive sozinha há cinco anos e três meses, desde que o meu avô partiu, e ai de quem lhe ameaçar tirar a independência. Perdeu o marido e a filha no espaço de dois anos e meio, mas nunca desistiu de lutar e de ajudar sempre que possível. De quando em vez cozinha para nós, e enche-nos de mimos. Muito frequentemente as palavras delas vêm acompanhadas de lágrimas, mas mantém-se forte e, quando preciso, também posso desabafar no ombro dela. Dizem que herdei dela a cor de pele e o cabelo (que era lindo, obrigada) e o corpo, claro, que também era o da minha mãe. 
E de todas as minhas recordações de infância, as relacionadas com ela são as mais presentes, pois sempre me fez sentir amada e acarinhada. A casa dela é o meu templo, ali sinto-me sempre bem, apesar das lágrimas que já lá foram derramadas ao longo dos anos. Ela faz parte de mim, e ela não sabe disto, mas não há dia em que não agradeça a presença dela, acho que nem desconfia como é importante para mim. Quando trabalhava mais perto de casa ia lá almoçar ou aparecia mais frequentemente ao fim da tarde, só que a vida complicou-se e esses momentos deixaram de ser tão frequentes.
Mas hoje, depois do trabalho, vou aparecer lá em casa com chocolates, flores, abraços e beijinhos. Porque ela merece. Porque a quero ver sorrir, porque quero sentir-lhe o cheiro e o conforto, porque quero que ela saiba que estou sempre com ela, porque sei que ver os netos é a alegria dela. Porque hoje ela faz 77 anos.”

segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

Parece que já tenho uma palavra para este ano...

Na verdade, ainda não estava contente com a minha escolha de palavras do ano (tinha duas) e não sei bem como, durante esta madrugada, ao ler um post neste blog sobre a palavra do ano, e eu a pensar que não tinha ainda decidido acerca da minha, uma pequena palavra surgiu, silenciosa e surpreeendentemente. Não dei muito crédito à coisa, mas enquanto amamentava e tentava que o pequeno dormisse (ontem deu-lhe a espertina, vá-se lá saber porquê, eu tinha sono!), a palavra fazia mais e mais sentido. Fico muito feliz que as minhas noites de privação de sono sirvam propósitos um pouco mais úteis do que andar feita zombie o dia todo. Fico é com pena que as páginas do meu diário estejam ainda a meio do processo do "Find Your Word", coisa que tenho feito nos outros anos e tem sido interessante. Mas tempo para escrever não é coisa que abunda para estas bandas, por isso trabalho com o que tenho.


Enquanto reflectia sobre o ano de 2017 e sobre o meu BECOMING, penso que foi um processo muito interessante. Pela primeira vez deixei mesmo uma palavra guiar-me e fixar objectivos e ideias. Um problema que surgiu com esta palavra foi precisamente aquilo que já faço há alguns anos e este ano quero mudar: eu estou sempre a acrescentar coisas à minha vida. Eu quero escrever mais, quero ler mais, quero desenhar mais, quero pintar mais e melhor, quero criar, quero dar mais corda ao blog, quero fazer trabalho diferente, quero fazer voluntariado, quero perder peso, quero ir ao ginásio, quero meditar, quero cozinhar, quero fazer manteiga de amendoim em casa... entre tantas coisas que quero sempre fazer e acumular na minha vida agitada. E durante algum tempo até o fiz... queria gozar a minha liberdade pré-maternidade e andei a tentar aproveitar o meu tempo nesse sentido, a acumular as actividades que queria fazer... e escusado será dizer que muitas coisas ficaram pelo caminho.

Ter um filho fez-me abrandar e reduzir as minhas actividades ao essencial. Fez-me viver um momento de cada vez, fez-me confrontar-me com alguns aspectos negros da minha personalidade. 

Neste ano percebi que consigo ser feliz com pouco, e que as pequenas conquistas importam enormemente. Quando tenho tempo para escrever um pouco, para desenhar, quando consigo ver um filme sem adormecer (mesmo que seja na cama, no Ipad, com um olho no burro outro no cigano), quando me maquilho, fico extremamente feliz. Aquelas coisas que antes faziam parte integrante do meu dia-a-dia deixaram de ser garantidas, e agora tornam-se ainda mais importantes (bem, maquilhar tem de fazer parte do meu dia a dia, especialmente quando voltar ao trabalho, mas vocês percebem a lógica da coisa). 

Outra coisa que notei ao longo deste ano e garantem-me que as hormonas são grandes culpadas, foi a minha tolerância e paciência para as pessoas diminuir drasticamente. Dei por mim a ser mais agressiva, a discutir mais, a questionar ainda mais tudo, a demarcar-me e a ser muito pouco flexível. Quero mudar isso em 2018. Não que eu possa combater as hormonas assim sem mais nem menos, mas posso tentar arranjar estratégias para abrandar e olhar para as situações sem entrar em conflito e sem me passar da cabeça. Até porque depois fico com sentimentos de culpa e acredito mesmo que não se devem alimentar este tipo de sentimentos negativos sob pena de nos afectar e nos tirar o gozo da vida. 
Outra coisa que gostava de apostar mais em 2018 será num pensamento sustentável, reduzir a pegada ambiental e usar menos plástico. 

As minhas primeiras duas palavras que tinha em mente eram AGIR e TOLERÂNCIA, que fazem muito sentido neste contexto de reflexão e intenções, mas... será que teriam força para me acompanhar ao longo do ano? Agir faz algum sentido quando ando a abrandar o ritmo? Senti que estas eram específicas demais para um ano inteiro e há tão mais num ano do que as intenções que se delineiam no início deste.

Por isso ontem a palavra que me surgiu numa inesperada inspiração foi... ESSENCIAL. 
Acho que resume tudo a que me proponho, e abre caminho ao que o ano trará. Não me arrogo de conseguir prever o que acontece quando tenho uma criança que ainda depende tanto de mim, e sinceramente estou farta de acrescentar tarefas e coisas à minha vida. Será um ano em que tentarei abrandar e deixar sair o que não interessa. Claro que quero escrever, ler, criar, desafiar-me, mas uma coisa de cada vez, preferencialmente em paz e sossego, e sem objectivos específicos ou uma agenda. Tenho saudades de desenhar a carvão. Quis tanto explorar outras técnicas que me esqueci do que gostava de fazer no início de tudo. Quero retomar a essência das coisas. Quero fazer o que tiver de fazer com tranquilidade e paciência. Quero ter mais tempo para as pessoas da minha vida, para não me entrar em conflitos e desorientar-me como tem acontecido ao longo de 2017. Com sorte as hormonas ajudam-me.
E hoje mesmo espero começar o meu board do Pinterest com inspiração relativa a esta palavra. Vamos ver como corre.

Bem-vindo 2018. Acho que vais ser bom.