Há uns dias quebrei. Desatei a chorar numa tarefa qualquer mundana e um medo assolapado de que o meu filho me morresse encheu-me de uma angústia tremenda. Quando me tornei mãe percebi que carrego em mim todos os medos do mundo, a cada dia que passa sinto que tenho mais a perder porque, confere, passe o tempo que passar, o amor aumenta diariamente. Mas nunca tinha sentido esta angústia paralisante, dei por mim a chorar, a pedir ajuda a amigos e família, a exteriorizar este terrível medo que me comia as entranhas. Fui acalmando. Não controlo tudo na vida e certamente não sei o que o futuro reserva, mas viver assim não é opção.
Não soube explicar a origem dessa dor, dessa angústia nervosa que me tomou de assalto. Continuo a não ter grandes luzes sobre o assunto. Apenas sei que ainda não me reequilibrei. Já tive um segundo episódio dias depois, e hoje, depois de uma manhã surpreendentemente calma e feliz ao entregar o Gonçalo na escola, dei por mim a chegar a casa e a sentir uma ansiedade a crescer no peito e um cansaço extremo ao mesmo tempo. Não estou aqui a rebolar na minha miséria, mas num assomo de consciência compreendo que isto ainda não acabou.
Falamos tanto de saúde mental e de como andamos tomados de fadiga pandémica e de incerteza no futuro, e eu sinto-me o verdadeiro cliché deste discurso. E custa-me muito compreender e aceitar, mas se calhar está na altura de assumir que "eu não estou bem". Percebo que a morte do meu avô acordou algumas feridas que julgava estarem saradas, e
Tomei uma série de atitudes e ando a delinear alguns planos: deixei de ouvir uma larga maioria de podcasts de crime, estava sempre a por-me no lugar dos intervenientes (todos), e a tomar as dores deles para mim. Tento não me encher de tarefas (o que é algo difícil na minha posição, mas tenho-me permitido abrandar um pouco sem lesar o trabalho, espero), procuro explorar uma paz inconsciente e tento meditar ou, no limite, parar um pouco para respirar fundo e estabelecer alguma paz. Vou voltar a ficar sozinha em casa e quero voltar a fazer ioga ou qualquer outro exercício. Mas são planos que seguem com calma e ponderação, não quero piorar a achar que tenho de fazer mais e mais.
Por fim, faço por me rodear de inspiração (que me faça sentir bem e não uma fraude - todo um outro assunto para outro dia) e de palavras de força. Toda a ajuda conta na recuperação. Não estou nos meus dias mais produtivos, o futuro continua a construir-se e o mundo não abranda por nós, mas eu sei que tenho de olhar para mim e me dar algum sossego.
Porque partilho isto num blog que nem sei se ainda é lido sequer? Pois, não sei, só sei que partilhar ajuda. Sei que estas dores não são só minhas, e sei que a ansiedade tem dominado a vida de muita gente. Nunca me tinha sentido tão descontrolada, e imagino que como eu haja muitos. Só queria dizer que, se estás a passar por algo semelhante, não estás sozinh(e/o/a). E após escrever isto posso atestar que me sinto mais tranquila. Partilhar é vida mesmo, mes amigues.
2 comentários:
Um abraço, Joana! Não estás mesmo sozinha, nestes tempos loucos que vivemos. Ontem chorei compulsivamente, sem conseguir respirar, durante 10 minutos, porque me queimei na mão. Não doeu assim tanto, mas foi a desculpa para deitar cá para fora o que tenho vindo a acumular...
Pouco se fala dos efeitos psicológicos desta pandemia, mas são o que mais me assusta!...
Que consigas mesmo encontrar o teu tempo e a tua calma! Pede ajuda, se precisares!
Um beijinho
Estamos mesmo a fritar a pipoca, querida Inês, não está fácil.
Ando a pedir ajuda e muito atenta mesmo. Há qualquer coisa que acordou em mim que me diz "isto é a sério" e estou empenhada em dar a volta. A nível físico tb estou muito mal tratada, muito tempo parada sem exercício, sem cuidar de mim... enfim, isso está a acabar.
Seguimos juntas.
Um abraço para ti e força. estou por aqui para ti também!
Um beijinho
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