sexta-feira, 5 de junho de 2020

Respect

Ando a mastigar as ideias para compor este post há alguns dias e sinceramente nem sei se o vou conseguir publicar já ou se o vou construir com o tempo. É muito difícil falar de racismo, de por os conceitos na mesa, de esmiuçar os pontos de vista e tentar abranger a complexidade de tudo o que abarca. E sei que, longo ou curto, este post vai sempre ficar incompleto e que nunca conseguirei falar de tudo o que se atropela na minha mente, mas tenho de tentar. Porque tenho uma voz, tenho uma plataforma (por pequena que seja) e tenho muita vontade de aprender, de compreender e de viver esta questão que se impõe incomodamente nas nossas vidas. No fundo, como tudo na vida.

Não podemos simplesmente fechar os olhos, fingir que não existe, que não tem importância, que vai passar. A memória é curta, mas enquanto continuam a morrer pessoas, e outras a passar por elas com impunidade, e a sermos TODOS constantemente atropelados pela profunda injustiça, de tudo isto, não podemos ignorar. Vamos convidar este incómodo, vamos debater, discutir, argumentar e contra-argumentar para, no mínimo, alargarmos as nossas mentes e aprendermos em conjunto. E com este conhecimento fazermos parte de uma sociedade mais equilibrada e justa, porque somos nós, unidos, que a construimos.

Tenho aprendido algumas coisas, alguns conceitos que não questionava antes. O fenónemo "black face", o #blacklivesmatter (que não é de todo um contraponto ao #alllivesmatter), a reconhecer o meu privilégio branco, e o que é verdadeiramente a "normalidade". Há tantas facetas para uma mesma coisa, não podemos simplesmente fechar os olhos a outras realidades que não a nossa. Empatia, precisa-se.

Aprendi com as minhas lutas pessoais que o meu sofrimento é válido, mas não é isolado. E que as minhas lutas pessoais são isso mesmo, apenas. E todos temos as nossas, ninguém escapa. Por isso quando começo a pensar no quanto as minorias têm de lutar e de se esforçar para ganharem credibilidade e peso e voz e um lugar minimamente respeitável na sociedade, só sei que nada sei. 

Eu neste momento posso descansar, posso por as minhas batalhas em pausa e relaxar confortável que amanhã ou depois pego nelas. Mas há quem não possa parar de lutar, que não se pode dar ao luxo de baixar a guarda, de sossegar. Não sei o que é ser olhada de lado, despertar desconfiança, insegurança, apenas pela minha aparência. Não sei o que é ter pavor de ser acusada injustamente porque se estiver no lugar errado à hora errada ninguém me vai automaticamente culpar e julgar pela cor da minha pele. Não sei o que é ouvir comentários asquerosos e injustos e sentir que o não há lugar para mim na sociedade. E acima de tudo, não sei o que é temer pela própria vida quando saio de casa. 

É incerto por onde podemos começar, mas mesmo que dê passos pequenos, vou dá-los. É o meu compromisso daqui para a frente. Estar atenta, ouvir, aprender, partilhar. Nunca me considerei (nem tenho feitio) propriamente activista, mas sei que posso e quero ser activa. 

Há muita informação a circular e dar continuidade à discussão, não deixar o assunto morrer é responsabilidade de todos. É o mínimo que podemos fazer. 

Não me quero alongar muito mais,  provavelmente voltarei a este assunto com posts mais orientados e mais explícitos (assim o espero) mas queria deixar-vos uma sugestão para terminar.
Subscrevam a newsletter da Nicole Cardoza. Tem informação interessante e muitíssimo bem documentada. Leiam, e se puderem, contribuam.

E se querem falar mais, usar esta plataforma, debater seja o que for comigo, corrigir-me, por favor, façam-no. Tenho o e-mail, facebook, instagram, caixa de comentários aberta. 

Respect.

2 comentários:

Ana A. disse...

Não é de todo uma questão apenas americana. Portugal tem um passado bastante racista no que aos negros diz respeito e por isso não nos faz mal nenhum reflectir sobre isso.
O meu problema com isto é que todas as abordagens que leio/vejo sobre o assunto de alguma forma contribuem para o reforçar da diferença e não da igualdade.
E depois tenho um problema pessoal. Om o privilégio branco. Eu vejo-o é estou consciente dele, mas não aceito ser acusada disso porque eu não posso simplesmente despi-lo. E por isso gosto pouco que seja apontado porque mais uma vez, para mim, contribuiu para o reforço da diferença.
E isto é tão simples: é sermos apenas Humanos. Tratar os outros como gostaríamos de ser tratados. Ver para lá das mágoas e das diferenças.

Analog Girl disse...

Super de acordo contigo, Ana. Não é um problema Americano, é universal. E também não gosto nem aceito ser apontada pelo meu privilégio, não escolhi tê-lo, da mesma forma que um preto não pode mudar a cor da pele. Acho que reconhecê-lo, mais do que mudá-lo (acho até que essa nem é propriamente a questão, não se apagam séculos de história de uma imposição da raça branca às outras) é o necessário nesta fase, para que possamos observar o nosso lugar no mundo e trazer os desfavorecidos para o nosso patamar, nem que seja apenas através da empatia.

Acho que o que esta fase traz é muito o reconhecimento que esta luta é constante e tem de ser um assunto que trazemos diariamente à nossa mesa se queremos ver as coisas a mudar. Consciencializar e agir. Claro que gostava de ir às manifestações, até porque sou muito defensora na causa, na impossibilidade de lá ir, vou usar o velho motto "think global, act local" e estar atenta ao que posso mudar à minha volta.