Ontem olhei bem para as minhas pernas ao espelho e pensei “são as pernas da minha mãe”! Não que antes já não fossem MUITO parecidas, o meu corpo é quase uma cópia do dela, que por sua vez também era herdado da minha avó. Mas as pernas da minha mãe, bonitas no seu género rechonchudo e que eu aprendi a apreciar, estavam cobertas de celulite, e as ancas projectavam-se longamente para os lados numa graciosa figura de ampulheta. Com excesso de peso, é certo, mas sempre bonita.
O meu corpo pós gravidez parece querer seguir o mesmo destino. Roliço, curvilíneo e forte. Não há nada de errado no corpo da minha mãe. Como o meu, já foi habitat de bebés, dá-lhes colo e carinho. Mas não era, não é o meu corpo.
Eu tenho algumas diferenças, a minha anca não é tão larga, pelo que perco a linha da cintura quando engordo. Sou mais alta, tenho os braços mais fortes. E pratiquei desporto quase toda a vida (e que saudades tenho eu de suar num ginásio ou num pavilhão), habituei-me aos meus ombros largos, a mais músculo na barriga. E tudo isso agora está meio desaparecido em combate.
O meu corpo é parecido com o da minha mãe, mas não é o dela. É o meu. E tenho de admitir que não gostei muito de me ver tão parecida com ela. A história do corpo da minha mãe foi marcada por muitas dietas iô-iô, muito excesso de comida, e uma relação atribulada de amor-ódio com a mesma.
Eu também já tive o meu quinhão de instabilidades e más-relações com a comida. Ainda tenho os meus descontrolos, como muito, como chocolates, como sem fome. Tento não me atormentar com isto, não me deitar abaixo com esta incapacidade. Mas não posso mais fingir que não se passa nada. Há uma linha ténue entre tolerância e o desleixo. Não tenho como aceitar este corpo, que era activo e estável, a transformar-se em algo pesado e descuidado.
Depois de perder e estabilizar um peso aceitável no pós-parto, mesmo estando longe do meu peso dito “normal”, ganhei mais 5 quilos quando comecei a trabalhar. Estou parada, passo o dia a petiscar. Há sempre doces e chocolates e nunca digo não à comida rápida e doce e fácil.
E hoje perante a balança, ontem perante a celulite nos joelhos, percebi que tenho mesmo de mudar. E não podendo ainda investir à séria em exercício físico, tenho de me focar em alterações alimentares.
Mas confesso que não sei bem como.
Já perdi a conta à quantidade de vezes que quis fazer algo diferente, já inventei mil abordagens ao assunto da perda de peso. Cortar radicalmente com a comida é muito eficaz mas neste momento não é opção, com a amamentação e toda a gestão da alimentação da cria.
Já perdi a conta à quantidade de vezes que quis fazer algo diferente, já inventei mil abordagens ao assunto da perda de peso. Cortar radicalmente com a comida é muito eficaz mas neste momento não é opção, com a amamentação e toda a gestão da alimentação da cria.
O que eu gostava mesmo de fazer as pazes com a comida. Gostava de saber comer menos e fazer mais pausas. Não ceder tanto à fome emocional. Optar pelos alimentos menos calóricos que eu gosto em vez de me empanturrar em massas e arroz e molho. Há espaço para tudo, eu tenho de interiorizar isto, mas não o faço. Ultimamente encosto-me muito à ideia de que já tenho tanto trabalho, já tenho tantas responsabilidades, bem posso comer o que me apetece. E talvez tenha mesmo é medo de mudar, de me comprometer comigo e com o meu corpo.
Mudar custa, mudar não é fácil. Mas eu sei que não posso continuar assim. E sei que não é impossível.
Hoje levantei-me e fiz uma prancha de 30 segundos. Não é muito, eu sei. Mas nunca me permito parar para fazer algo pelo meu corpo, as minhas manhãs são feitas à pressa e a tentar que o Gonçalo não acorde antes que eu faça tudo o que tenho para fazer. Mas hoje ele dormia, e eu parei e fiz a prancha. Uma prancha sempre foi uma forma de observar o meu corpo, de perceber como ele reage e se esforça. Foi uma experiência, e foi interessante. Terei de começar a fazer mais. Mais pranchas, mais tempo, mais exercícios. Roubar espaço das pausas e começar a somar pontos positivos.
Se quiserem partilhar as vossas experiências, conselhos, histórias da amiga da prima que perdeu 20 quilos, ou dizer-me um entusiasta “go girl”, por favor, façam-no. Tenho de deixar o meu eu acomodado para trás, tenho de me motivar e tenho de me comprometer. Algo vai mesmo ter de mudar.
Mudar custa. E eu sei que não vai ser fácil. E nunca foi tão difícil como é hoje. Mas tenho de tentar.
(fotos de comida que partilhei noutros tempos no Instagram, porque imagens de comida são sempre boas de ver e rever)
(fotos de comida que partilhei noutros tempos no Instagram, porque imagens de comida são sempre boas de ver e rever)
5 comentários:
Somos duas (tirando a parte dos filhos). Dá-me uma preguiça... E depois a feminista que há em mim diz-me que não tenho que querer encaixar nos padrões de ninguém, que estou bem assim, que só tenho que me agradar a mim mesma. Enfim, sou muito boa a arranjar desculpas. Mas vamos lá, força para nós!
Estou na mesma caminhada para perder peso, ainda me faltam 9 kilos, depois de ser mãe a coisa descontrolou-se!!
Vamos conseguir :-)
Go girl! You can do it :)
Por aqui também temos um longo histórico de luta com a balança e de uma relação complicada com a comida...
Não tenho soluções milagrosas para ti. O que eu sei é que nos últimos anos fui mudando aquilo que como. Não acredito em dietas paleo, em 30 dias, da fruta, da carne, das bolinhas de sabão... Acredito mesmo em mudar os hábitos. Não, nenhum nutricionista me pagou para isto. São as mudanças graduais e os novos hábitos que ficam. Não são as coisas radicais!
Eu sou super gulosa. Acabámos de jantar e já despachámos uma tablete de chocolate entre os dois. E sinto-me mal por isso, claro. Mas o açúcar é mesmo o meu ponto fraco.
O que eu faço é controlar o resto. Tomo um bom pequeno-almoço: como sempre aveia (em papas, panquecas ou scones - por vezes, faço quantidades gigantes ao fim-de-semana e congelo) e fruta (com leite ou iogurte), e bebo sempre chá verde (é bom para mil e uma coisas...). Faço um lanche a meio da manhã com um iogurte líquido, uma peça de fruta e umas bolachas (tortitas de milho ou bolachas de aveia). Levo sempre a minha marmita que, nesta altura, é muitas vezes de saladas. Mas saladas boas, que apetecem comer! Saladas com vários legumes, ovo cozido, fruta, frutos secos, e atum ou camarão. Depois à tarde vou petiscando: fruta, iogurte sólido, frutos secos e bolachas. E tento jantar coisas leves. Às vezes, janto só sopa. Claro que depois vingar-me no chocolate é só parvo. Eu sei. Mas prefiro cortar nas calorias do jantar e consolar-me com chocolate, do que empanturrar-me de massa. São opções. Mais ou menos inteligentes, mas são opções. Comecei por dizer que a minha relação com a comida também não era a mais saudável!...
Eu tento ir gerindo e equilibrando. Se ando a treinar mais, aumento os hidratos de carbono (massas e batata doce). Mas quando não treino, tento cortar com eles nas refeições e guardá-los para o pequeno-almoço e lanches.
Como disse, o que eu fiz foi ir mudando os hábitos nos últimos anos. Mais fruta, mais hidratos complexos que realmente tiram a fome, muitos líquidos (bebo 2 litros de água/chá por dia, no mínimo), muitos legumes. Não como fritos e como poucas gorduras (em casa, pelo menos). Faço gelatina com frequência, até para levar como sobremesa depois de almoço. Sou mesmo gulosa e sabe-me bem. Nada a fazer!
Não sou grande exemplo... Não consigo mesmo largar os doces. Mas sei que estou bem melhor e que me porto bastante bem no resto!
Podia dizer-te mais mil e uma coisas mas acho que o mais importante é mesmo tu dares um passo atrás e olhares para ti e para a tua vida. O que é que tu consegues fazer de diferente? O que é que é razoável exigires-te, dadas as tuas circunstâncias? Não te massacres demasiado com isto. Não entres em radicalismos. Se conseguires, se fizer sentido para ti, vai incluindo nas tuas rotinas e nos teus hábitos pequenas coisas que funcionem, que sejam exequíveis. A pouco e pouco, vais ver melhorias e vais sentir-te melhor :)
Estou contigo!
Olá Analog.
Antes de mais... you go girl!! :D
Sinto-me muito na "obrigação" de te dizer qualquer coisa sobre este tema e não sei bem o quê.
Entendo tudo o que dizes, desde o corpo da mãe passando pelas ligeiras diferenças, cruzando a relação toxica com a comida e terminando no grande problema que é a falta de tempo, a falta de vontade e a organização de prioridades.
E no teu caso, como no meu... a prioridade é o G. E o trabalho e a casa e dormir e tudo e mais alguma coisa antes de ti mesma e do teu corpo e da tua figura em frente ao espelho. E eu relaciono-me imenso com isso, revejo-me em tudo o que dizes, com a única exceção de já ter começado a praticar exercicio quase diário (e no fundo, de já ter conseguido emagrecer um bocadinho).
Sabes, eu sinto-me como um alcoólico que não bebe há meio ano e de quem toda gente diz "ah, muito bem, ele deixou de beber". Sinto que as pessoas olham pra mim como se eu fosse uma pessoa totalmente mudada e que faz exercicio e que não há problema em comer um gelado... ou 2... porque faz exercicio. E estou numa fase em que simplesmente não me apetece ir ao ginásio. Não me apetece levantar cedo, não apetece abdicar de tempo de sono para me mexer. E tenho um pânico terrível de voltar a deixar-me ficar parada e arranjar desculpas para não ir só mais hoje, amanhã volto.
E depois o girl power, esse cabrão! Que nos faz olhar para o espelho e não gostar do que vemos, mas dizermos a nós mesmas que é girl power não ceder aos padrões da sociedade, quando a sociedade está bem caladinha e o conflito está todo na nossa cabeça.
O que te posso dizer é... faças o que fizeres, faz por ti. Se isso nao for suficiente, faz pelo G, faz pelo teu companheiro, faz pela tua saúde, faz por toda e qq coisa que aches que és capaz de por à tua frente. Eu digo a mim mesma que o meu filho pode abdicar de 2h/dia do meu tempo se isso me der mais anos de vida com ele mais tarde. E que é preferível que o tempo em que ele está comigo eu possa ter força e energia para brincar com ele, para lhe dar colo (por treinar, por me mexer, por tentar estar mais em forma) do que a contrapartida que era estar dedicada a ele, não me mexer e simplesmente não lhe conseguir pegar.
Vai correr. Leva-o contigo. Vai caminhar, leva-o contigo. se ele adormecer pára o carro, encosta-te, faz abdominais, faz pranchas no jardim, faz o que for preciso que não gaste €... e usa um tempo para organizares a cozinha, pra preparares inicios de jantares e sopas (tem sempre sopa!) e marmitas e coisinhas que possas usar numa urgência. Congela comida que faças a maisnda-te de alimentos que sejam mais saudáveis, porque mesmo que cedas a chocolates e outras coisas "do demo", o corpo não vai absorver tanto.
E não é fácil, não vai ser fácil, isto não é fazer 2 dias e está o hábito ganho. Mas na dúvida... vai!
Beijinho grande e força nisso miúda!
Meninas! Mil obrigadas pelos vossos conselhos e comentários e pelo entusiasmo. Tenho vacilado qb mas também tenho voltado aos eixos. Vou optando pelas coisas boas e saudáveis e o exercício ainda não anda bem alinhado mas há-de fazer mais parte da minha vida (por agora tenho as curtas caminhadas carro-trabalho trabalho-carro), mas como chocolate negro e legumes e fruta. E faço pausas e tento pelo menos, criar antes de tudo, hábitos saudáveis e menos açúcares.
O resto vem!
Beijinhos a todas
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