segunda-feira, 18 de setembro de 2017

As coisas a que nos prendemos... e deixamos ir

Conduzi ontem o meu carro pela última vez. Foi o primeiro carro que tive em meu nome, que comprei. E tem uma história de muito amor e carinho que tenho trazido comigo nos últimos 15 anos. Que quero partilhar agora, que me despedi dele.

Creio que em 2000 o meu tio tinha direito a ter dois carros de serviço que podia passar a alguém da família directa, e que podia renovar a cada 2 anos, e decidiu usufruir desse direito para surpreender o meu avô e dar-lhe um carro... ou vários ao longo dos anos. 

Não me esqueço do momento em que o meu tio lhe passou as chaves para a mão no dia de anos dele, num Agosto já ido. 
A família toda sabia do segredo e estávamos na expectativa louca da surpresa. O meu avô era a melhor pessoa do mundo, merecia tudo o que lhe pudéssemos dar. Lembro-me tão bem daqueles momentos em que o meu tio lhe disse, a medo, não lhe fosse dar uma coisinha com a emoção. O meu avô nem podia acreditar. Ficou comovido. Todos ficámos.
Em 2002 veio o meu carro. Passou pelo meu avô, que infelizmente morreu antes de poder trocá-lo. E depois passou para a minha mãe, que o comprou. E quando ela morreu fiquei eu com ele. 

Antes tinha sido dele, e dela. Era importante por isso. Era um bom carro, económico e rápido e seguro.  Mas foi deles. E eu ali sentia-me protegida e segura. E tudo correu sempre lindamente. Gostava de pensar que eles me protegiam à distância. 

A realidade é que no fundo é só um carro e eu não podia continuar a usá-lo por muito tempo. Está velho e é pequeno. Para uma rapariga de 23 anos foi óptimo e era melhor do que eu imaginava. Se continuasse só eu, ficaria com ele até apodrecer. Para uma mãe de família não dá, simplesmente. Um dia teria de me despedir dele, de aceitar que a vida mudou e o carro envelheceu. Esse dia chegou. 

Mas nada me tira o gozo que foi tê-lo. Nada me tira o prazer de o ter conduzido, das viagens que fiz, da música que cantei a altos berros, das boleias que dei, de ter criado tantas memórias nele, de ter trazido o meu filho para casa nele. Foi meu 11 anos e foi maravilhoso. E agora vai dar gozo a alguém novo, que o vai apreciar certamente.
E eu vou começar uma nova fase, ter um carro a que não me prenda tanto emocionalmente, seguir em frente, ter outro estilo de vida. 

Quanto a eles... estão sempre comigo, a proteger-me à distância, seja onde e como for.

1 comentário:

Coisas da Andreia disse...

É incrível como po vezes pequenas coisas nos fazem tão felizes :)