Ao chegar a Ko Yao apercebemo-nos que de facto já não estávamos em Railay Bay, estávamos num sítio sossegado, calado, isolado do mundo. O táxi levou-nos a um resort onde só estava mais um casal hospedado para além de nós. Tudo respirava sossego e rotina naquela ilha.
O caminho para o hotel estava ladeado pelas pequenas casas dos moradores da ilha, casas assentes em pilares, como se fossem as palhotas de um rio, mas em terra firme. Ao invés de correr água, esse espaço por baixo da casa servia para estacionar os carros, estender roupa, ou até colocar redes e dormir sestas preguiçosas com a família toda. Fiquei fascinada com o que via, aquele povo parecia ter tão pouco mas pareciam imensamente felizes.
Percebemos rapidamente que não podíamos limitar-nos ao resort. A praia que estava perto de nós não era de todo o que esperávamos, não haviam águas transparentes nem areias brancas. Haviam muitos caranguejos e corais, muitas conchas pela beira-mar, que coleccionei e fizeram as minhas delícias. Mas ainda assim, tornava-se quase opressivo o silêncio e o isolamento.
Nesse dia descobrimos uma praia bem mais bonita e acessível e combinámos ir conhecer algumas ilhas das redondezas com um senhor que tinha táxis e barcos e organizava pequenos passeios. Tivemos muita sorte nas pessoas que encontrávamos. Há sempre gente disposta a sacar dinheiro aos turistas, mas não sei se seria da nossa natureza desconfiada, fazíamos questão de falar tudo com atenção para que fosse sempre muito claro, e nunca nos decepcionámos. E este senhor era provavelmente o melhor de todos, acessível, bem-disposto e extremamente honesto. E tenho tanta pena de não me lembrar do nome dele...
A ilha era maioritariamente islâmica, por isso todos os dias de manhã e à noite, pontualmente ouvíamos o chamamento para a oração e para uma ilha tão pequena que não chega a ter 1000 habitantes, eu contei mais de sete mesquitas e tenho a certeza que se me escaparam algumas. Ainda assim a sua devoção era tão pacífica que era impossível não me deixar fascinar. Não parecia haver desrespeito por ali. Nunca me senti desconfortável por lá. Foi uma parte de absoluta entrega ao momento e onde consegui verdadeiramente relaxar. Passei longos momentos na rua a ver a chuva a cair, debaixo do alpendre, a ler, a escrever, a desenhar, a ouvir música... Foi sem dúvida o sítio que mais me pareceu genuíno em todo o país, e foi onde senti que podia preguiçar.
Quando fui embora, apesar de sentir falta da agitação e barulho, uma pontada de saudades agarrou-se a mim e não me deixou mais. Por vezes podia parecer que as horas não passavam em Ko Yao, as praias podiam não ser as melhores, e os programas de passeio também não eram os mais diversificados, mas aquelas pessoas, o restaurante na praia onde comemos a melhor comida, aquela vida simples debaixo daquele calor, encheram-me o coração. E por vezes lembro-me da sensação de lá estar e fico espantada com este lugar, do outro lado do mundo, que me fez sentir assim.
3 comentários:
Adoro ler sobre viagens, e especialmente sobre as impressões que deixam nas pessoas. Obrigada por partilhares =)
Estou-te a ler e bateu uma saudade! Vai fazer um ano da minha viagem, se pudesse voltava agora. E sim, causa um certo assombro ter um sítio do outro lado do mundo que nos faz sentir tao em casa, em muito gracas á gentileza do povo.
Gostei tanto de ler! Parecei que estava mesmo lá!!
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