domingo, 8 de fevereiro de 2015

Hoje acordei com umas saudades imensas de Ko Yao Yay, a última paragem onde estive quando fui à Tailândia e achei que estava finalmente na hora de vos falar mais deste lugar.


Escolhemos Ko Yao como a zona que se seguia a seguir a termos estado na fantástica Railay Bay, uma zona turística por excelência, sem grandes confusões, onde os resorts formavam um pequeno aldeamento, e a praia era absolutamente magnífica. Ko Yao estava referenciada como uma zona mais calma ainda, com boas praias, e belas paisagens, praticamente sem caixas ATM e um povo muito simples. E claro, bem mais barata que as restantes zonas mais requisitadas.
Ao chegar a Ko Yao apercebemo-nos que de facto já não estávamos em Railay Bay, estávamos num sítio sossegado, calado, isolado do mundo. O táxi levou-nos a um resort onde só estava mais um casal hospedado para além de nós. Tudo respirava sossego e rotina naquela ilha.
O caminho para o hotel estava ladeado pelas pequenas casas dos moradores da ilha, casas assentes em pilares, como se fossem as palhotas de um rio, mas em terra firme. Ao invés de correr água, esse espaço por baixo da casa servia para estacionar os carros, estender roupa, ou até colocar redes e dormir sestas preguiçosas com a família toda. Fiquei fascinada com o que via, aquele povo parecia ter tão pouco mas pareciam imensamente felizes.


Percebemos rapidamente que não podíamos limitar-nos ao resort. A praia que estava perto de nós não era de todo o que esperávamos, não haviam águas transparentes nem areias brancas. Haviam muitos caranguejos e corais, muitas conchas pela beira-mar, que coleccionei e fizeram as minhas delícias. Mas ainda assim, tornava-se quase opressivo o silêncio e o isolamento.


Então no dia seguinte alugámos motas e fomos explorar a ilha. A mota era sem margem de dúvidas o meio de transporte preferido da população. Era ver velhos e novos a conduzi-las por toda a parte. Uma rapariga adolescente a levar a avó, rapazes que não podiam ter mais de 13 anos a percorrerem a ilha em bando, pais a irem buscar filhos à escola (cheguei mesmo a ver um pai com três crianças pequenas na mesma mota), todos se moviam como se as duas rodas motorizadas fizessem parte de si.


E que ilha deliciosa. A população olhava-nos curiosa, mas sempre muito receptiva e bem-educada. Encontrámos uma noiva numa praia a ser fotografada, e as crianças que a acompanhavam acenavam-nos adeus, maravilhadas por encontrarem estrangeiros. Nós acenávamos de volta e não me recordo de ver tantos sorrisos juntos.

Nesse dia descobrimos uma praia bem mais bonita e acessível e combinámos ir conhecer algumas ilhas das redondezas com um senhor que tinha táxis e barcos e organizava pequenos passeios. Tivemos muita sorte nas pessoas que encontrávamos. Há sempre gente disposta a sacar dinheiro aos turistas, mas não sei se seria da nossa natureza desconfiada, fazíamos questão de falar tudo com atenção para que fosse sempre muito claro, e nunca nos decepcionámos. E este senhor era provavelmente o melhor de todos, acessível, bem-disposto e extremamente honesto. E tenho tanta pena de não me lembrar do nome dele...

A ilha era maioritariamente islâmica, por isso todos os dias de manhã e à noite, pontualmente ouvíamos o chamamento para a oração e para uma ilha tão pequena que não chega a ter 1000 habitantes, eu contei mais de sete mesquitas e tenho a certeza que se me escaparam algumas. Ainda assim a sua devoção era tão pacífica que era impossível não me deixar fascinar. Não parecia haver desrespeito por ali. Nunca me senti desconfortável por lá. Foi uma parte de absoluta entrega ao momento e onde consegui verdadeiramente relaxar. Passei longos momentos na rua a ver a chuva a cair, debaixo do alpendre, a ler, a escrever, a desenhar, a ouvir música... Foi sem dúvida o sítio que mais me pareceu genuíno em todo o país, e foi onde senti que podia preguiçar.

Quando fui embora, apesar de sentir falta da agitação e barulho, uma pontada de saudades agarrou-se a mim e não me deixou mais. Por vezes podia parecer que as horas não passavam em Ko Yao, as praias podiam não ser as melhores, e os programas de passeio também não eram os mais diversificados, mas aquelas pessoas, o restaurante na praia onde comemos a melhor comida, aquela vida simples debaixo daquele calor, encheram-me o coração. E por vezes lembro-me da sensação de lá estar e fico espantada com este lugar, do outro lado do mundo, que me fez sentir assim.
















3 comentários:

Lazy Cat disse...

Adoro ler sobre viagens, e especialmente sobre as impressões que deixam nas pessoas. Obrigada por partilhares =)

Merenwen disse...

Estou-te a ler e bateu uma saudade! Vai fazer um ano da minha viagem, se pudesse voltava agora. E sim, causa um certo assombro ter um sítio do outro lado do mundo que nos faz sentir tao em casa, em muito gracas á gentileza do povo.

Ana Burmester Baptista disse...

Gostei tanto de ler! Parecei que estava mesmo lá!!