domingo, 25 de novembro de 2018

Para aquecer o coração

Há tempos comentava no facebook que ou sou uma grande sortuda, ou sou mesmo distraída e não me apercebo de muita coisa (abençoada ignorância). No meio do mundo louco da maternidade, das mães perfeitas e imperfeitas, das nazis da amamentação, das teorias de tudo, da parentalidade positiva e mil e uma correntes de pensamento há algo que é transversal a todas as mães, que é o  acto de levarem constantemente com as opiniões alheias. Ninguém gosta de ver as suas escolhas questionadas e comentadas por terceiros (mesmo que muitas gostem de opinar sobre outros).

Isto para dizer que até agora, por distracção ou mesmo por ter sido abençoada, não tenho tido a minha vida demasiado invadida por gestos, palpites, opiniões e invasões (apesar de perceber que esta coisa da amamentação prolongada causa algumas comichões, mas aí decido mesmo ignorar).
Assim, numa de contrariar a corrente de queixas sobre as críticas (se bem que posso também falar disto depois), gostava de partilhar convosco as coisas mais bonitas que disseram e fizeram. 
Porque há muitos gestos que são tão absolutamente generosos que eu até fico sem jeito e não faço ideia porque raio alguém faria isso por mim.

Ainda durante a gravidez recebi telefonemas e mensagens de mães do mesmo ano que me
ajudaram muito a alinhar expectativas.

A minha melhor amiga, através de conversas prolongadas ou só apenas pelo exemplo dela, me transmite imensa calma e ao mesmo tempo me faz ver que não existe cá isso de soluções chave-na-mão. É tudo inventado enquanto avançamos e essa é que é a beleza da coisa.

Quando escrevi este desabafo, e a uma leitora antiga do blog, que é minha amiga no facebook e tem também um filho uns dois ou três meses mais velho que o meu, me enviou uma foto da mesa da sala de jantar cheia de roupa e coisas para arrumar(tal e qual como a minha). Quase me vieram as lágrimas aos olhos só de pensar que não sou a única.

A minha ex-colega que me disponibilizou a irmã para me ajudar com a amamentação. Nunca fomos chegadas mas ela foi uma verdadeira amiga nessa fase. E recentemente encontrei-a numa festa e quando conversávamos sobre os sonos das crianças e como decorrem as noites (sendo que a filha dela dorme já a noite inteira e o meu é um terror) ela fez o comentário mais solidário e tranquilo que ouvi e foi absolutamente sincero (coisa tão rara entre mães)

Quando a querida Ana Sofia me pediu a morada e queria fazer-me comida quando o Gonçalo nasceu (não aceite,i mas esse gesto foi…nem tenho palavras)

O comentário da Ana neste post que me provocou uma mudança de pensamento: que quando aprendesse a deixar de me comparar com o pré filhos que tudo iria correr melhor (entre várias outras mensagens no Messenger que me fazem sentir uma pessoa/mãe normal) – e em relação a este… é tão verdadeiro, e estou MUITO mais adaptada à minha vida, já sinto que ser mãe é algo que faz parte de mim naturalmente, e sentir isto ajuda a aceitar todas as lutas que tenho de enfrentar no dia-a-dia. Que alívio.

Quando a minha prima, mãe de dois, um com 10 anos, outro com 7 meses e que eu adoro e admiro MUITO, me disse no aniversário do Gonçalo que não sabia como é que eu conseguia fazer tudo sozinha. Porque apesar de ter ajudas, o grosso do trabalho, do planeamento, das responsabilidades ainda sou em quem faz, e raramente tenho um minuto de descanso. Eu ainda tentei dizer que não fazia nada diferente dela, mas ela disse apenas “eu conto com a minha mãe para tudo, ela ajuda-me em montes de coisas e tu não tens esta ajuda”. Escusado será dizer que nem consegui conversar mais e entrei em modo maricas. Porque nessa altura percebi o que ela queria dizer, e senti-me mesmo uma mãe do caralho (como diz e bem a Susana, e eu sei que sou influenciável e tal mas há que dizer com todas as letras). Porque ser mãe sem ajuda da minha mãe está no top 5 das coisas mais dolorosas da minha vida, e estou a fazê-lo todos os dias, e acredito que estou a fazer bem.

Agora é a vossa vez. Quais os gestos, as palavras, as coisas bonitas que vos disseram acerca desta experiência da maternidade que vos tocaram o coração? Hoje ficamo-nos pelas optimistas, mas um dia destes podemos falar das piorzinhas também…

quinta-feira, 22 de novembro de 2018

Essencial

Como já disse antes, escolhi para palavra deste ano ESSENCIAL, porque no ano anterior tinha tido um tal arrombo na minha vida com o nascimento do Gonçalo, a luta que foi para amamentar e para superar um baby blues paralisante, esta palavra remetia para uma calma e análise que não costumam ser características típicas minhas, mas que precisava para compreender e aceitar as mudanças que a minha vida tinha acabado de sofrer. E ao mesmo tempo, não me perder de quem sou e daquilo que me caracteriza e do que gosto. E agora que o fim do ano se aproxima, começo a reflectir muito sobre isto, se funcionou para mim, se vivi esta palavra (e o seu significado) verdadeiramente ou se estive aquém.





O que este ano foi para mim
Pelas pesquisas que fui fazendo ocasionalmente no Pinterest e que alimentavam o meu board para a palavra (um hábito que quero continuar a manter para os próximos anos e próximas palavras), ESSENCIAL está ligado ao minimalismo, e se no início pensava em entrar numa onda de arrumação e destralhamento, não consegui reflectir minimamente esse conceito da coisa. 

O meu essencial não é tanto sobre como reduzir coisas da minha vida, mas antes o processo de estar em plena confusão e tentar orientar-me se quero ou não manter e como procurei (e procuro) perceber essencialmente quem sou, o que quero, para onde tenciono ir. 

Porque durante os últimos anos alimentei um sem número de sonhos mais ou menos realistas, muito baseados no que via pela internet fora (escrevi um pouco sobre isto aquie cheguei recentemente à conclusão que andei meio desorientada com isto tudo e sem tirar verdadeiro proveito das coisas. Percebi por exemplo que gostei muito de explorar a costura, mas não seria para fazer disso negócio, queria mesmo é saber como se fazem algumas coisas e divertir-me. Ainda adoro coisas craftys e projectos DIY mas já não quero fotografar mil vezes o que faço para por no blog ou no instagram. Quero só usufruir. E depois até posso partilhar, se me apetecer.

Sinto que 2018 foi uma espécie de ano zero do resto da minha vida. Porque foi um ano em que desarrumei as gavetas figurativas da minha mente e tentei por ordem no caos. 
Fiz muitas listas, ainda faço. Comecei por fazer playlists, bucketlists (é tão mais fácil escrever em estrangeiro), fiz desafios de journaling e reflecti sobre alguns temas. Foi engraçado. 
Dei por mim a ler e a dar abertura para explorar um mundo de gente que fala de temas mais holísticos (e por vezes quase esotéricos), de coaches motivacionais (quer acredite muito nisso ou não), li e-books, posts em blogs, ouço podcasts dentro destes temas do autoconhecimento e de desenvolvimento pessoal, sempre de espírito aberto e sentido crítico qb. Também andei por aí a explorar todo o tema de aceitação corporal e alimentação intuitiva. Descobri coisas interessantes, e pela primeira vez dei por mim a separar o que interessava do que era acessório. Não me apeteceu por nada em prática, apenas porque senti que o essencial era mesmo informar-me e avaliar à distância o que me interessa. Ando a dar algum tempo para as coisas ficarem ou passarem. Continuo a fazer listas, reflicto sobre os temas que me despertam alguma atenção, mas essencialmente gosto da sensação de que não me fechei ao mundo, mas antes mudei a mentalidade com que encaro estas coisas. E não me sinto assoberbada nem assustada com o excesso de informação interessante e útil. Estou ainda apenas a distinguir o que é importante para mim. E pegar numa coisa de cada vez (esta é provavelmente a minha maior conquista).

Em casa, abracei o caos. Gostava de destralhar, sim, mas enquanto não dá vou fazendo por orientar tudo o melhor que possa. Se todos tivermos roupa para vestir, comida, cuidados básicos de higiene, abraços e sorrisos para partilhar, já estamos bem encaminhadosO resto vai devagar. No trabalho, afasto-me de conflitos e aprendo a focar-me cada vez mais nas minhas tarefas, dou por mim a melhorar métodos de trabalho e os resultados estão à vista. Sinto-me extremamente orgulhosa de mim, porque acho que sou tão melhor profissional agora, mesmo usufruindo de uma redução horária.

Cheguei à conclusão que o essencial para mim não é desligar e deitar fora tudo o que é acessório. Eu preciso de muita coisa diferente para me motivar e me manter interessada. Preciso de livros por ler, de coisas a acontecer, de ter múltiplos interesses parados no tempo, à espera que me apeteça.

O essencial é saber gerir as prioridades do cérebro, parar com o multitasking, ouvir o corpo, o instinto, saber quando acrescentar e quando retirar, saber quando parar e quando descansar (não quero voltar a passar por um burnout). Tem muito a ver com autoconhecimento, e com a atitude que escolhi adoptar perante estas coisas, e pela primeira vez em muito tempo, começo a perceber bem quem sou. Pelo menos muito melhor do que até aqui.
Acho que foi uma boa palavra.

quarta-feira, 24 de outubro de 2018

Coisas avulso

Devido ao post da semana passada da querida Susana (que tem só o blog/pág de facebook que me ajudam a lidar com esta coisa complexa e maravilhosa que é a maternidade sem enlouquecer ou me sentir uma freak), acredito que o meu blog receba agora uma fornada de novas leitoras. Assim em jeito de apresentação, deixo alguns factos aleatórios sobre mim só porque sim:
1- (isto já devem saber, mas) Sou a Joana, tenho 36 anos e sou designer gráfica há 13 anos. Ainda não me fartei da minha profissão mas sempre achei que não pode durar para sempre. A ver vamos se algum dia me vai dar para mudar radicalmente.
2- Em Setembro fez também 13 anos que escrevo blogs. Comecei completamente por acaso, para seguir e partilhar coisas com uma querida amiga que foi viver para os Estados Unidos e ficou por lá. Tornou-se o testemunho da minha vida desde aí (apesar deste blog ser mais recente, tem apenas 7 anos). Ela parou de escrever, eu não consigo largar isto… mas não actualizo com muita frequência, aviso já
3- Não suporto a moda dos unicórnios. 
4- Sou chocolatodependente e eu sei que está só na minha cabeça, mas não quero parar de comer. É uma escolha, e eu assumo.
5- O meu herói preferido é o Tio Patinhas
6- Consequentemente, sempre me considerei um pouco forreta e acho que é uma virtude 
7- Tenho boa memória e sei de coisas absolutamente desnecessárias e que não deveriam ocupar espaço cerebral. Mas também guardo imensas recordações que adoro partilhar com amigos mais antigos. 
8- Mas também sei o meu Nº de Cartão de cidadão e o NIF de cor. E falta pouco para decorar o meu NIB também
9- Sou introvertida e adoro ler. Tenho de ter sempre um livro na cabeceira mesmo que passe dias sem lhe tocar 
10- Tim Burton rules
11- Sou definitivamente uma morning person e acordo sempre com fome e com energia
12- O pequeno-almoço é a minha refeição preferida
13- O meu filho é provavelmente o bebé mais lindo que eu já vi
14- Já pratiquei patinagem artística e é a minha pedrinha no sapato não me ter dedicado mais àquilo (houve muitos problemas que impediram, um dia talvez vos conte)
15- Falando nisso, é um objectivo meu a curto prazo comprar patins para recuperar o hábito (próxima primavera, espero eu)
16- Sou uma geek. Adoro o Star Wars e não consigo escolher preferidos entre o senhor dos Anéis e o Harry Potter
17- O meu maior sonho seria comprar uma casa no campo e ter uma biblioteca “à antiga”, assim uma coisa muito ao estilo Enid Blyton. Quem sabe um dia.
E pronto, assim de repente não me ocorre mais nada, mas certamente ficou muito por dizer. E agora um desafio em cima do joelho, não se querem também apresentar e contar 3 coisas sobre vocês? Os comentários estão em aberto. E isto não é válido só para a malta “nova”, os que já cá vêm também podiam partilhar algo que não saiba sobre vocês. #ficaadica

quinta-feira, 4 de outubro de 2018

Ai pessoas...!

Estou cansada das pessoas. Muito a sério. Cansada da facilidade com que as pessoas descartam e destratam as outras, a facilidade como empurram os outros com a barriga para ficarem eles próprios no centro das atenções. Não posso mais participar em conversas onde só te ouvem porque estão à espera da vez deles para falar, e isto quando te ouvem, porque grande parte das vezes impõem-se, dominam tudo e não te deixam sequer opinar porque apenas a opinião deles conta.

Detesto como vejo pessoas a tirar conclusões sobre os outros e como espalham as suas visões e opiniões deturpadas pela sua própria perspectiva da vida porque têm de odiar alguém, porque tem de haver um objecto de rejeição, de conversa, de desprezo conjunto. Porque rejeitar é fácil, rejeitar une pessoas sob um denominador comum. Excepto que há as que ficam de fora, as que são ignoradas. E por vezes muito obviamente rejeitadas, a tentar fazer de tudo para não serem postas de parte, mas sem sucesso.

Odeio quando rotulam assim as pessoas. Sem dó nem piedade, sem tolerância, sem um mínimo de compreensão e compaixão.

Odeio que essas atitudes de merda sejam tão tóxicas que contaminem todos em redor.

Não sou nenhuma santa. Eu ainda julgo, critico e aponto o dedo. Mais vezes do que gostaria. Mas se antes o fazia e empinava o nariz, orgulhosa, hoje repenso, recolho o braço esticado em tom acusador e questiono. Não conheço o íntimo de ninguém, não sei o que passa, não sei as dores por que passam. E se não me está a fazer mal ou a provocar uma ofensa mortal, que direito tenho eu de rebaixar alguém? Porque me irrita? Porque não é igual à carneirada?


Infelizmente há quem queira ter a razão à força, que impõe a sua verdade impugnável e com isso empurra os outros para fora de vista. Como se isso não ofendesse também. Como se isso não magoasse.

O que nos dá o direito de atropelar assim as pessoas? Porque raio isso nunca ficou arquivado nos tempos de escola? Onde anda a compreensão e tolerância que tantos gostam de aclamar mas que depois quando lhes convém, fica esquecida?

Não precisamos de ser todos amigos de toda a gente e amar o mundo, claro que existem círculos mais restritos e devemos estar com quem nos diz mais, mas não é sempre assim que funciona a vida, também temos de tolerar e conviver com quem não nos é tão próximo. Rejeitar e rebaixar só porque é conveniente ou porque nos achamos na posse de uma qualquer posição superior à dos outros não é aceitável. Não sejamos então estas bestas críticas e intolerantes, não façamos aos outros aquilo que não gostamos que nos façam a nós. Será que custa muito?

Foda-se, eu achava que não. Mas já me enganei por menos…

terça-feira, 2 de outubro de 2018

Coisas que aprendi e não acreditava que eram reais (felizmente não são muitas)

Pessoal, estamos num impasse, porque ando verdadeiramente sem vontade de escrever.  As ideias para posts e pensamentos avulsos continuam a brotar desta cabecinha, mas quando coloco o dedo no teclado, nada sai. É um pouco frustrante, porque sinto que a minha cabeça está a entrar num estado de absoluta incapacidade de funcionar como devia. Sim, eu sei, agora tenho um bebé, que não dorme grande coisa, que não me larga, que eu amamento (e de alguma forma, acho que isso influencia a minha capacidade cerebral), como demasiado açúcar, tenho muita coisa (sopeirices) a acontecer na minha vidayaddayaddayadda.
Eu sei que um bebé nos rouba atenção, espaço, sanidade mental, e recentemente passei (espero que já tenha passado mesmo) uma fase catastrófica porque, depois ter passado 5 meses entre os primeiros dois dentes e o terceiro, e de repente nas duas últimas semanas apareceram três a espreitar sem aviso prévio, o que acredito que provocou a quantidade de noites mal dormidas que, ainda por cima, coincidiram com uma constipação do demo que não me larga há 2 semanas.

Portanto estamos bem.

Ainda assim, e apesar de eu me sentir absolutamente incapaz de juntar as ideias em frases coerentes e relativamente curtas, queria partilhar convosco algumas coisas que me diziam que iriam acontecer quando fosse mãe, e que ou não acreditava muito nelas (ou achava-as um pouco forçadas).

A primeira, eu era uma gabarolas com a minha imunidade. Raramente ficava doente, a única maleita que padecia era de alergias, que, com o passar dos anos têm vindo a abrandar. Não tinha febre há mais de uma década. Apanhava vento e correntes de ar sem um pio. Se estivesse um pouco mais afectada um dia de chá e brufens aliviava a coisa. E já me tinham dito que quando tivesse filhos o corpo ia reagir de maneira diferente e que apanhávamos facilmente as doenças dos putos e afins. A minha tosse de cão e o meu nariz pingão sem fim à vista confirmam esta tese, desde que o puto nasceu que eu sou uma menina. E pior, com a amamentação estou estupidamente limitada na medicação, e obviamente que não há cá aguardente com mel. Uma tristeza portanto. Sinto-me como o super-homem junto à kriptonite.

Segunda, que me esqueço das coisas mais facilmente. Esta vai e vem. Ainda acho que continuo a ter uma boa memória – e a prova disso é que ontem no trabalho, a falar com um colega, e com esta constipação e noites mal dormidas, lhe lembrei que ele se estava a esquecer do café na máquina. Nem tudo está perdido. Mas então no que toca ao blog, acontece-me mais vezes do que quero admitir, tenho ideias para posts e quando vou tentar ordenar ideias… esqueci-me (aliás, compilar as ideias para este post foi um feito, esqueci-me várias vezes do que queria escrever, e é aqui que sinto que os smartphonesforam das melhores invenções da humanidade).

Terceiro, que no fundo no fundo, eles dão bem menos trabalho quando são bebezinhos. E eu confesso que não acreditava muito nesta porque passei horrivelmente mal nos primeiros tempos. Aquelas coisas que ninguém fala: não me sentia particularmente apegada ao bebé, sentia-me exausta, a flutuar num mar de hormonas, nervosa e preocupada com a responsabilidade em ser a principal fonte de sobrevivência daquela criatura. Só queria que o tempo passasse e ele começasse a ser mais ele, e eu estivesse mais habituada ao meu papel de mãe. Pois… ontem passava pelas fotos dele tão pequenino e apesar das sestas de meia-hora que ela fazia, era realmente um sossego e tão mais fácil de lidar do que agora. Como é que eu não vi isso?? Mas ele agora é um espectáculo, divertido e provocador, e isso compensa (um pouco) a trabalheira que dá.
Ainda estou para perceber se entretanto com esta coisa das saudades do pouco trabalho que dava e de ter um bebé sossegadinho e dependente de mim me vão dar vontade de ter outro. Para já não acredito muito nisso, estou muito bem assim, obrigada. Mas nunca se sabe. No meio disto tudo, o que realmente aprendi com esta coisa da maternidade é nunca dar nada por certo nem definitivo. As coisas mudam facilmente e eu tenho de apanhar o ritmo e deixar de querer controlar tudo. E há dias em que isso custa horrores, mas acho que é capaz de ser a melhor e mais dura aprendizagem da minha vida. E há algo de bom em desafiar os limites.

sábado, 15 de setembro de 2018

Aquela culpa que mói...

Sozinha em casa com a criança porque o pai foi a uma despedida de solteiro. O miúdo anda a engrenar nas rotinas da escola e dorme noites melhores (nem quero falar muito para não azarar a coisa) e sestas mais longas.
Miúdo já dorme há uma hora sem largar um suspiro e que faço eu? Treino o scroll nas redes sociais... Ando há dias com vontade de desenhar, de escrever, de pintar as unhas, e a coisa mais produtiva que fiz até agora foi um bolo de caneca porque me apetecia um doce (e sim, continuo a alimentar de forma errada este corpo que continua a não ser o meu - assunto para mais tarde quando conseguir ordenar melhor as ideias... quem sabe, depois de as escrever no meu diário!). E agora liguei o computador, para não escrever este post no telemóvel, porque há limites para a preguiça.
Eu sei que parar e fazer coisas altamente improdutivas faz parte e devemos aceitar que nem sempre temos de estar a produzir coisas ou a fazer coisas. Podemos ser preguiçosos de vez em quando. Mas se é para me massacrar num ecrã mais valia ver séries. Ou outras coisas mais interessantes como ler.  Tenho vários livros a meio (um deles até é e-book e leio-o no telemóvel), pilhas de revistas para terminar... Ou ver o catálogo do IKEA, que seja! 
Há coisas altamente inúteis mas que de alguma forma são positivas. Fazer scroll nas redes sociais faz-me sentir pior do que depois de comer o bolo de caneca inteiro. E agora que faço eu com esta culpa?

Bem, engulo-a e borrifo-me para o assunto. Esta sensação opressora de que não há tempo para as coisas há-de passar. Amanhã com sorte, terei uma sesta longa outra vez e posso fazer o que me apetece para equilibrar as coisas. Mas se me der na gana na altura, vou mesmo é dormir com o miúdo. Escrevo e desenho quando conseguir ou se sentir uma urgência ou necessidade imensa. Ele ainda é bebé e eu ainda tenho o direito de me sentir cansada. Os meus sonhos e ideias estão cá e não os quero deixar ir embora e hei-de redescobrir a minha produtividade e criatividade nestes escombros (aliás, eu sei que nunca me abandonaram completamente, depois da festa do Gonçalo)
Agora vou mas é ler antes de dormir que também faz bem e ajuda. E medito deitadinha na cama que também conta.

sexta-feira, 7 de setembro de 2018

Setembro é sempre aquele mês...

Eis que 3 semanas volvidas estou de volta a estas lides, apenas para constatar que as férias passam sempre a correr, mesmo que durma pouco. Não vou entrar em detalhes do que é ter quase 3 semanas de férias para só ir 1 para fora e as restantes serem para limpar, arrumar, organizar a casa e a roupa. Nem o que é passar férias com crianças (spoiler: não são férias) ou dicas para o mesmo (deus me livre, nem sei como sobrevivi).
Apenas queria fazer uma pequena reflexão sobre o que é voltar à minha terrinha e como é regressar a casa depois de lá passar uns dias. Spoiler: é maravilhoso. Não interessa que esteja em férias que não são férias, que não consiga parar um segundo, que tenha levado papel e caneta e não escrevi uma linha, mas a inspiração que recebo dali continua a tocar-me, mesmo quando não posso fazer nada quanto a isso. E soube mesmo bem regressar a casa e perceber que sinto novamente Setembro como um mês de recomeços. Mais uma vez, não que tenha feito grande coisa sobre isso, andámos a matar saudades da família no regresso e depois começámos a levar a injecção da creche, que é todo um novo capítulo e uma nova dor-de-cabeça.
Mas a aproximação do Outono faz sempre com que me apeteça planear os próximos passos, começar esta fase do ano com outra energia e vontade, recolher em casa, projectar intenções para a minha vida… É sem dúvida, a minha fase do ano preferida.
Agora vamos a ver se isto não cai em saco roto e realmente avanço com as coisas. Ando já a fazer listas e a pensar no Natal (a ver se este é finalmente o ano em que despacho as prendas com mais antecedência para gozar dezembro com outra calma). Estou mais do que pronta para o Outono (até porque o verão não colabora e já quer avançar para a próxima estação). Vamos a isto?

quinta-feira, 23 de agosto de 2018

Amamãetação, ou como isto custa como o raio - parte 3

Chegámos à terceira e última parte de posts sobre a amamentação. Não volto a fazer-vos uma destas tão cedo...

Pois bem, passadas as dores e as agonias a coisa começou a decorrer mais tranquilamente. Ele mamava bem, tinha força, e eu finalmente conseguia parar para respirar. Foi nesta fase que consegui retomar leituras com calma enquanto ele demorava eternidades a mamar. A sério, o miúdo demorava o tempo que queria! Dormia pelo meio. Por vezes pousava-o e 5 minutos depois queria leite. Não conseguia perceber quando estava satisfeito. Finalmente ele tinha atinado na mama e gostava muito da livre demanda. Não fazia intervalos maiores que duas horas, excepto de noite, que conseguia dormir umas 3 horas de seguida... de vez em quando. Não conseguia aumentar o intervalo de tempo entre mamadas, por muito que a pediatra e a enfermeira do CS insistissem.
Ele simplesmente ficava.

Entretanto, como ele crescia e as necessidades mudavam, a pediatra aumentou a quantidade de leite artificial. E aqui comecei eu a ficar desconfortável. A mastite já tinha passado, ou estava prestes a passar, vamos continuar a encher o miúdo de leite artificial? Agora que o meu corpo entrava no esquema tinha de correr o risco de desmamar? Não estava a achar muita piada.
Apesar de continuar a não adorar a experiência da amamentação em si, não queria ser empurrada para fora dela. Comecei então aos poucos a ler artigos sobre largar a alimentação complementar e dar mama em exclusivo. Sabia que era possível, sabia de uma experiência em primeira mão. Mas não sabia o como.
(Faço aqui o parênteses sobre o assunto de contactar ajuda especializada de uma enfermeira ou uma CAM. Eu tentei no início, mas em Agosto era uma fase de férias e nem toda a gente estava disponível, o grupo da Liga La Leche estava parado, a irmã de uma rapariga que conhecia, que é enfermeira especializada também esteve quase para vir ajudar, mas uma noite mal dormida ditou que o encontro não acontecesse e essa rapariga estava grávida de fim de tempo, não deu para outras combinações. Por isso isto foi tudo muito à base de procurar soluções e tentá-las organicamente.)

Então fui testando. Continuava a dar de mamar em livre demanda. Por vezes não dava o leite artificial (especialmente porque ele mamava com muita frequência, e não podia fazer intervalos menores que 3 horas), à noite, com a preguiça em aquecer biberões e afins, quase não dava e ele parecia bem e satisfeito. E aumentava de peso. Numa consulta de rotina disseram que podia tirar o leite artificial à vontade, que o meu era suficiente. Só dava leite artificial à noite naquela de ver se ele dormia mais (nunca funcionou) e ele continuava a desenvolver-se lindamente. Uma noite tirei o leite artificial e não notei diferença. E assim voltei a amamentar em exclusivo. 
No meio disto tudo, devo ter comprado umas 3 ou 4 latas de leite artificial. 
Olhando para trás, parece ter sido um processo relativamente simples, mas naquelas fases complicadas, na loucura das hormonas, fui muito infeliz. Ninguém nos prepara para isto.

Hoje em dia ainda amamento. Não planeei nada disto, não sei até quando vou amamentar, se vou desmamá-lo por livre vontade ou esperar até ele querer. O que sei sobre este assunto é:

1- Amamentar é uma cena pessoal. Nunca deveremos julgar ninguém ou tentar influenciá-la só porque não concordamos. Eu já tive em todos os lugares do espectro, desde odiar com todas as forças, como adorar profundamente a experiência. Chorei de dor e de alegria. Mas não quer dizer que seja assim com toda a gente. Respeito toda a mãe que amamenta até aos cinco, como a que amamenta 6 meses, como a que não amamenta porque não pode, como a que amamenta porque não quer. Eu tive alguma sorte com a minha experiência, insisti porque quis e por alguma preguiça em assumir determinadas mudanças. Não sou nenhuma heroína por ainda amamentar, mas tenho motivos para dar continuidade.

2- Deveríamos mesmo ter acompanhamento mais especializado disponível. A amamentação é pior do que a gravidez e a privação de sono, e birras, tudo combinado. Mil obrigados às enfermeiras do SOS Amamentação, às enfermeiras do centro de saúde que foram dando apoio e conselhos, às mães que, amamentando ou não, me deram muitas perspectivas sobre o assunto para eu poder decidir o que queria fazer. Procurem sempre apoio e ajuda se têm dúvidas.

3- Amamentar pode ser muito lindo, mas também pode ser a pior seca da vida. Quando o bebé demorava 40 minutos a mamar em cada mama (até chegar aos 3 meses, idade em que lá aprendeu a acelerar a coisa) eu andava a morrer uma morte lenta de tanto tédio. Vá que me fui orientando para ler durante o processo. Essa coisa do vínculo especial... eh! Há momentos muito bonitos e especiais, claro, muitos deles gerados da minha emoção, porque o Gonçalo sempre foi irrequieto e não ficava embevecido a olhar para mim nem me lia os pensamentos, como se poderia imaginar, mas também podem existir momentos em tantas outras circunstâncias, e  as vezes em prefere estar com o pai, que nunca amamentou? 
Faz tudo parte. Pode ser lindo mas não vai propriamente descer uma luz divina sobre nós.

4- É uma espécie de super poder. Não é bem, mas sinto-me como tal por isso... :P

Resumindo. Façam o que querem. O corpo é vosso, as mamas são vossas. O que interessa é um bebé alimentado e nutrido, e uma mãe que pode zelar pelo crescimento dele em paz consigo própria. Custou-me a interiorizar isto, mas é mesmo isto.
E fechamos este assunto aqui.

terça-feira, 21 de agosto de 2018

Andamos todas perdidas?

Para quem não me segue no facebook ou no Instagram, estou de férias. Para a semana estarei fora de Lisboa, mas por enquanto, estou por casa, a orientar as coisas devagarinho, a limpar a casa, a preparar a tralha para a viagem, tudo com muita calma. E pelo meio, fazemos manhãs de praia tranquilas com o Gonçalo, ele ainda dorme uma pequena sesta debaixo do chapéu e nós temos a ilusão de que podemos curtir a praia, tomar um banho de mar, folhear uma revista e apanhar uma corzinha.

Mas não era bem este assunto que vos queria trazer.
Hoje, quando fomos à praia, estava uma rapariga sozinha ao pé do nosso chapéu. Nós ficámos por lá cerca de 1h30, e neste tempo, ela foi ao mar uma vez, fumou bastantes cigarros e passou 95% do tempo ao telefone. Ora ligava a amigas, ora ligava à chefe, ora ligava a um cliente para combinar detalhes de um serviço qualquer... 

Enfim, passei a minha parca hora e meia de praia a ouvi-la desenrolar a vida e o dia-a-dia. Houve duas situações que me prenderam. Uma delas, em que a chefe lhe aconselha a ser mais assertiva com um cliente porque não poderia dar-lhe tudo o que ele pretendia no tempo que ele queria. Ao que a oiço falar com ele ao telefone como se estivesse chateada e prestes a insultá-lo, porque obviamente ela nunca soube dizer que não nem impor limites, então saíu-lhe um tom de voz mais agressivo do que seria de esperar. 
A segunda situação foi a que me fez ficar a pensar. Alguém lhe ligou a cobrar algo. Diria que é um namorado ou aspirante a namorado, que tentou contactá-la na noite anterior mas como ela se deitou cedo, não lhe retornou a chamada/mensagem/convite/whatever. E ela, ao falar com ele para lhe travar as inseguranças disse algumas frases que me ficaram... "epá, eu agora não olho para o telemóvel à noite, o que me está a fazer lindamente, devo dizer" e "eu ando a cuidar de mim, hoje levantei-me às 7h e fui caminhar, ando a ir ao ginásio, vim à praia sozinha...". E doeu-me um pouco o coração por ela. 

Não que houvesse algo de mal no que ela disse ou no que faz, pelo contrário (quem me dera voltar ao ginásio e ir à praia sozinha). Mas por perceber a insegurança por detrás de tanta actividade. Não sei se ela estaria a enfrentar uma depressão ou apenas a tentar dar alguns passos numa evolução pessoal. Como vemos tantas vezes nessa internet fora. Até na porcaria dos detox digitais e afins vamos nas modas (sim, eu assumo, o meu detox digital foi fraco e não rendeu nada, foi mais uma experiência para sentir que consigo, eu ainda não estou pronta para abdicar da distração que as redes sociais trazem, tal como não tenho estado preparada para fazer dietas e continuo com peso a mais).

Fiquei triste porque andamos todos a tentar encontrar um propósito, porque a internet e a vida digital nos trazem tanta informação, mas também tanta frustração. E aparentemente, nestas experiências pessoais, também não acrescenta propriamente algum conteúdo, porque muito disto é superficial. 

Aquela rapariga podia estar a deixar o telefone desligado à noite, mas é óbvio que não sabe estar sozinha, senão não teria passado todo o tempo ao telefone a falar com várias pessoas, e acredito que não tenha tirado prazer algum da sua passagem pela praia. 
Estamos todos a ser mordidos pelos bichos do mindfulness e da felicidade e seguimos os passos que nos sugerem na esperança de encontrar aquela faísca, aquele momento "eureka" e esquecemo-nos de viver, esquecemo-nos de olhar para nós e perceber se é mesmo aquilo que queremos e gostamos. Se calhar para ela o ideal seria ir a um shopping, e se calhar sairia de lá com a cabeça mais tranquila do que estar na praia sozinha apenas porque algum guru de auto-ajuda ou uma influencer dizem que é bom.  

Claro que sou a favor do melhoramento pessoal, mas também do auto conhecimento. Mas temos de saber o que gostamos e o que nos faz feliz. Comigo, quando estou muito confusa e cansada e stressada, ler é o melhor remédio. É onde sou feliz e estou plenamente tranquila, onde posso ser eu. E a partir daí posso decidir o que fazer a seguir. Mesmo que não seja a minha área de conforto. 
E sei que já sou uma sortuda por saber isto. Mas tenho pena, tenho tanta pena de não sabermos lidar connosco próprios. Estaremos perdidos? Seremos cegos a liderar cegos? Algum dia tudo isto fará sentido? 
Enfim, não procuro respostas, apenas queria partilhar esta reflexão convosco.
Se não voltar entretanto, boas férias para mim... ;)

quarta-feira, 15 de agosto de 2018

Amamãetação, ou como isto custa como o raio - parte 2

Continuamos a saga da amamentação. Sei que isto por vezes pode ser extremamente secante para quem não é mãe, mas escrevê-lo está a ser muito positivo para mim. Entretanto queria acrescentar, depois de ler o post da Lénia e ela focar um motivo muito forte para dar continuidade à amamentação... ser grátis e ser muito prático, sem ter de comprar um porradão de acessórios e afins. Mas ainda vou falar nisso. Para já, o Gonçalo tinha pegado finalmente na mama...

O puto mamava até se fartar. Larguei a bomba, não tinha necessidade dela. Eu andava dedicada à coisa, fazia calor e frio, punha creme de lanolina, dava leite em livre demanda (que odiei nesta fase), não fazia feridas nem estava particularmente incomodada. Achava que já estava a caminho do sucesso.

Até que um ou dois dias depois de ele pegar na mama, senti frio e estava cansada. Estávamos em Agosto, num verão super quente. Algo não estava muito bem. Tinha febre, e rapidamente me apercebi que tinha um durão na mama esquerda. Pouco depois percebi que afinal eram dois. E a pele começou a ficar rosada, em cima do durão. Não doía muito, mas incomodava e assustava. Decido ligar para o SOS Amamentação (que foram umas queridas, e com quem acabei por falar várias vezes nestes primeiros tempos). Descrevi o que se passava comigo, me lá me dizem que teria certamente uma mastite e encheram-me de conselhos e recomendações sobre como massajar o peito e minimizar a coisa e desfazer os nós. Era importante o bebé mamar muito da mama afectada para ajudar a voltar tudo ao normal. 
Ao mesmo tempo, tive a oportunidade de consultar rapidamente a minha obstetra, que viu e confirmou que estes eram sintomas de uma mastite, prescreveu uma receita de antibiótico e anti-inflamatórios e eu cruzava os dedos para que o esforço conjunto desse certo. 
Eu tentei fazer tudo certinho.

Só que depois começou a doer quando dava de mamar. Punha compressas quentes, punha o bebé a mamar, compressas frias, fazia massagens com uma garrafa de plástico com água quente, punha folhas de alface congeladas a seguir (recomendações e truques das enfermeiras da SOS Amamentação), e mesmo com os comprimidos todos, não passava. Eu começava a temer cada vez que o Gonçalo chorava para comer. Na mama direita, apesar de não ter nada visível comecei a ter dores excruciantes e assustadoras, como se em vez de sair leite, me estivessem a introduzir ácido pelo interior da mama. Tinha de morder a minha mão para não gritar de dor. Mas chorei muito.

Foi aqui que comecei seriamente a pensar desistir desta merda toda. Sentia-me triste, exausta e sozinha.

Eu ficava rancorosa com as outras mães que me mandavam mensagens de força e diziam para continuar, que elas também tinham superado e coiso. Até que uma prima me ligou e contou a história de amamentação dela, que durou apenas 2 meses (e que na altura me parecia uma eternidade. Eu levava duas ou três semanas disto, naquele momento não me imaginava a dar de mamar 2 meses), mas ela lá partilhou a história dela, dizia que lhe doía, que fez feridas e sangrava, e tinha sido traumatizante, que temia cada momento em que tinha de dar de mamar e quando desistiu se sentiu tão mais tranquila para simplesmente ser mãe. Terminou com um “faria na boa 10 partos sem anestesia do que voltar a dar de mamar”. 

Eu revi-me MUITO na experiência dela e fiquei bem mais calma depois desta conversa. É que por muitas boas intenções que toda a gente tivesse, eu estava realmente a sofrer e às vezes, mais do que encorajamento em seguir em frente só queremos ouvir "é ok se parares, não precisas mesmo de fazer isto se não quiseres". 

Ponderei bem o processo todo para parar com a amamentação. Mas não sabia se queria deixar já. Eu queria muito amamentar e queria muito que aquela infecção passasse. Disse a mim mesma que tentaria mais uma semana, que dava hipótese ao antibiótico para funcionar, para o caroço desinchar, etc. Só que o antibiótico pouco adiantou. Os dias passavam e não notava diferença. As dores continuavam, eu chorava a amamentar e dizia a mim mesma que aquilo era absolutamente errado, que ia parar.

Mas era a minha escolha (ainda que a questionasse umas 578 vezes por dia). Ouvi uma história de uma rapariga que parou a amamentação num momento de stress e se arrependeu. Eu não me queria arrepender, eu sonhei tanto com aquele momento, com aquele filho, ainda não me sentia pronta a desistir.

E sim, antes que perguntem, eu tinha noção que estava a ceder, não sei se às convenções de "amamentar é que é", ou se tinha algum sentimento de culpa, eu andava tão dividida que já não sabia o que fazer. Não sou nem nunca fui fundamentalista, mas sou a favor da amamentação. E eu queria mesmo essa experiência, por isso continuava a adiar a decisão de parar. Não que esperasse que se ia tornar bom, já não acreditava nisso, mas apenas porque também tinha medo de parar de um dia para o outro. O início deste processo é muito delicado, e enquanto a produção não estabiliza e encontra um ritmo tudo é imprevisível. 
Então, por medo dos comprimidos e de piorar a situação, e porque já conhecia aquela face da luta, dei por mim neste piloto automático de sofrimento prolongado qual mártir da maternidade.
(eu sei, eu sei! Hormonas!)

O meu tipping point foi quando me meti nas urgências para reavaliar a situação da mastite. Por esta altura já tinha começado a complementar a alimentação do pequeno com leite artificial, que ajudou bastante a minimizar os períodos de dor e desconforto e tirou-me a responsabilidade de ser a única pessoa a ter de alimentar o Gonçalo.
Peguei em mim num domingo de manhã e lá fui enfiar-me num hospital da luz semi-deserto. Mudaram-me a medicação, e chamaram uma enfermeira que me explicou como massajar o peito e drenou uma boa parte do leite parado. Os nódulos não doíam nesta fase, mas eram enormes, sentia-me deformada. Mas ela lá me ajudou a reduzir o volume e o desconforto. Aprendi bastante com ela. As coisas iam mudar, ou pelo menos já percebia um pouco mais do funcionamento da coisa. 
Ainda fui à farmácia e quando regressei a casa, o Gonçalo tinha dormido o tempo todo, tinha acordado há pouco e não tinha pedido leite, parecia que estava à minha espera. Achei que era um bom prenúncio para a última oportunidade que daria à coisa. Quase posso jurar que não me doeu dar-lhe de mamar dessa vez. E em 3 dias estava visivelmente melhor. Ao fim de uma semana não tinha dor nem nódulos (apenas uma parte da pele a secar e enxertar-se a si própria por causa do (des)inchaço). Já não chorava, e apesar de odiar ficar parada tanto tempo a amamentar a cria, já tudo parecia mais natural, apenas realmente chato.

Mais tarde, ao falar com a enfermeira do centro de saúde contei-lhe que desconfiava que a bomba do leite tinha sido a causadora da mastite, e ela confirmou que usar bomba eléctrica em fases iniciais era muito complicado, porque estimulava demasiado a produção de leite e podia dar azo a estas complicações. Já fica a nota para as/os interessadas. Tenham atenção a estas coisas!

E por hoje é tudo.
Na terceira (e última) parte seguem mais alguns desafios, e a parte em que eu comecei a gostar disto.


segunda-feira, 13 de agosto de 2018

Anatomia de uma festa de aniversário.


Vou ser sincera, não sei mesmo como consegui por a uma festa de anos a andar. Bem, até sei, fui mesmo organizadinha e o mais essencial, tive ajuda, que mesmo com percalços pelo meio, atrasos, esquecimentos e breves desorientações, idas e vindas, esteve sempre lá a ajudar-me a por a festa de pé. Quando chegaram os primeiros convidados (os avós e tia), estávamos ainda a comer pizza que encomendámos para o espaço da festa e só tínhamos meia mesa posta, mas a coisa foi-se compondo. E agora que me começo a afastar da loucura do último fim-de-semana é que percebo que a coisa até correu lindamente e, atrever-me-ei a dizê-lo?, foi um sucesso.

A verdade é que me lancei numa empreitada doida. Queria uma festa como imaginava, com uma imagem bonita (defeito profissional, desculpem lá), que pudesse reproduzir na festa e queria fazer eu as coisas e a comida. Estava morta pela oportunidade de fazer um pequeno projecto e quis muito agarrar esta oportunidade. Só tenho uma oportunidade para o primeiro ano de um filho…
Passo um...Location, location, location!
A primeira coisa que tinha em mente era o espaço da festa. Uma amiga minha fez duas festas para o filho dela por aqui e eu apaixonei-me. Para além do espaço ser lindo, é próximo de casa, temos uma liberdade total para usar coisas, para reorganizar e decorar ao nosso gosto, tem uma mesa óptima e espaçosa, louça bonita, tudo de bom. E a um valor aceitável.
Passo dois... tema e afins
Outra coisa que eu queria mesmo mesmo mesmo, era uma espécie de infográfico informativo do primeiro ano da vida do Gonçalo (tinha um exemplo donde tirei a inspiração no meu Pinterest, mas parece que desapareceu para grande pena minha). Não tinha brindes e doces porque não era bem uma festa de crianças (e eu na verdade não gosto muito disso), mas queria algo que pudesse ser engraçado e diferente e que reflectisse o Gonçalo. Então fiz uma versão à minha maneira e dentro do tema, que deu para dois posters A3 e também fiz pequenos postais A5 para quem quisesse, levar. Acho que gostaram.
O tema em si foi mais difícil de decidir. Achava eu que iria para os animais da selva ou assim, visto que o puto até é leão de signo… Mas comecei a ver o tema repetido até à exaustão no Pinterest (claro que criei um board de inspiração tipo, uns 3 meses antes) e comecei a desanimar. Não que esperasse inventar a roda nesta fase, mas queria algo que pudesse adaptar melhor aos nossos gostos e que fosse um pouquinho diferente do que vemos para o primeiro ano. Então deparámo-nos com este post e a partir daqui vimos que queríamos mesmo o tema “little man”, e com inspiração nos ícones hipsters, as coisas ganharam forma. Acrescentei umas pinceladas de aguarela made by me e a coisa estava lançada. Serviu para o convite no facebook, para etiquetas de comida assim como outras pequenas peças espalhadas e ainda umas peças comestíveis (mais sobre isto à frente). Até a roupa do Gonçalo estava pensada para o tema (mas o calor não deixou que usássemos a camisa e o laço).

Um detalhe que quis acrescentar e que foi um pouco o flop, mas vá, numa festa de um bebé com crianças aos pulos é sempre difícil de pedir essa disponibilidade, foi o pequeno livro de dedicatórias. Disponibilizei canetas e carimbos para poderem desenhar e escrever. Poucos foram os que escreveram, mas vou agora dedicar-me a perseguir os que não o fizeram. E sim, no fim, quero escrever eu, quando encontrar a paz e o sossego para o poder fazer com calma. Gostava de repetir todos os anos este passo, ou fazer algo semelhante para que o Gonçalo tenha sempre as palavras e encorajamento da família e amigos. É tão fácil perdermo-nos nas rotinas e nas complicações de todos os dias e sentirmo-nos longe de todos, acho que estes artifícios nos lembram o quanto gostamos das pessoas e elas de nós. Por isso é que gosto tanto de escrever cartas, seja sobre o que for.


Passo três... O que comer
Quanto às comidas, também não inventei grande coisa. Claro que adoraria ter entrado numa onda mais sugar/gluten free mas não havia tempo para grandes invenções. Havia sempre as típicas pipocas, batatas fritas, sandes, espetadas de fruta e salgados. Dediquei-me essencialmente em fazer algumas coisas de raíz e com a ajuda da bimby fiz um salame de dois chocolates, bolo brigadeiro, bolo de anos e limonada. A minha irmã pelo seu turno fez gelatina e cozinhou os folhados de salsicha que tinha preparado e congelado de antemão. E acreditem, isto já foi trabalho suficiente. O que deu um  ar de sua graça e que fiz mesmo muita questão, foi ter impressões personalizadas da imagem da festa em bolachas pela Oficina da Flor. Desde os tempos do Sweet Rebel Bride que andava fisgada para fazer umas bolachinhas personalizadas, e por pouco ia perdendo a oportunidade porque estão em tempo de férias. Mas lá consegui imprimir com antecedência, e colei eu em bolachinhas para não se perder o efeito (usei chocolate branco derretido). Não ficou nada mau e dá sempre aquele toque à mesa, para além de que eram deliciosas.

O bolo

Não há muito a dizer sobre isto. Confesso que adoraria ter tido um bolo alto (teria de fazer duas vezes a receita), mas não tive tempo para mais. Na minha ideia queria um bolo muito simples, com uma decoração simples também (acabei por fazer o cake topper, como podem ver na primeira foto deste post, com bandeirolas a reproduzir a imagem que criei) e uma vela azul que corri tudo para a encontrar, finalmente, na tiger - abençoada!

Queria um bolo relativamente simples e meti na cabeça que teria de ter cobertura de queijo-creme, talvez para poder dar a provar ao Gonçalo sem grandes culpas, se bem que na hora H ele nem quis saber. Encontrei esta receita e devo dizer... nunca fiz um bolo tão bom. Não era muito grande, é certo, mas tendo em conta o lanche, nunca pensei que toda a gente o adorasse tanto a pontos de desaparecer por completo. Eu só comi umas duas garfadas, em breve terei de o fazer de novo para o devorar conveniente.
Ainda consegui que toda a "loiça" descartável usada no bolo fosse amiga do ambiente , assim como usei apenas palhinhas de papel (não havia budget para mais, mas damos passinhos pequenos e já não está tudo perdido), tudo do Jumbo. Vejam este post da Helena, foi lá que descobri.

Fazer o bolo, enfeitá-lo com a decoração feita por mim e ainda poder fazer desse momento um momeno sustentável, foi uma das sensações mais incríveis nesta experiência toda. Estava tão parecido com a minha imaginação, e saber que toda a gente adorou... Enfim, não sei explicar.

Escrevo-vos este post completamente de rastos, numa segunda-feira quase sem dormir, mas muito feliz de ver as ideias materializadas, de ver o meu filho a crescer sob o olhar de todos os que nos são queridos,e de perceber que eu consigo fazer tudo a que me proponho, que ainda consigo concretizar, se calhar com mais gana do que antes.  
Eu ainda sou eu, e também sou mãe.
Há um ano.
Caraças!