quarta-feira, 27 de junho de 2018

Aquele corpo que era meu

Ontem olhei bem para as minhas pernas ao espelho e pensei “são as pernas da minha mãe”! Não que antes já não fossem MUITO parecidas, o meu corpo é quase uma cópia do dela, que por sua vez também era herdado da minha avó. Mas as pernas da minha mãe, bonitas no seu género rechonchudo e que eu aprendi a apreciar, estavam cobertas de celulite, e as ancas projectavam-se longamente para os lados numa graciosa figura de ampulheta. Com excesso de peso, é certo, mas sempre bonita.
O meu corpo pós gravidez parece querer seguir o mesmo destino. Roliço, curvilíneo e forte. Não há nada de errado no corpo da minha mãe. Como o meu, já foi habitat de bebés, dá-lhes colo e carinho. Mas não era, não é  o meu corpo.




Eu tenho algumas diferenças, a minha anca não é tão larga, pelo que perco a linha da cintura quando engordo. Sou mais alta, tenho os braços mais fortes. E pratiquei desporto quase toda a vida (e que saudades tenho eu de suar num ginásio ou num pavilhão), habituei-me aos meus ombros largos, a mais músculo na barriga. E tudo isso agora está meio desaparecido em combate.


O meu corpo é parecido com o da minha mãe, mas não é o dela. É o meu. E tenho de admitir que não gostei muito de me ver tão parecida com ela. A história do corpo da minha mãe foi marcada por muitas dietas iô-iô, muito excesso de comida, e uma relação atribulada de amor-ódio com a mesma. 
Eu também já tive o meu quinhão de instabilidades e más-relações com a comida. Ainda tenho os meus descontrolos, como muito, como chocolates, como sem fome. Tento não me atormentar com isto, não me deitar abaixo com esta incapacidade. Mas não posso mais fingir que não se passa nada. Há uma linha ténue entre tolerância e o desleixo. Não tenho como aceitar este corpo, que era activo e estável, a transformar-se em algo pesado e descuidado.


Depois de perder e estabilizar um peso aceitável no pós-parto, mesmo estando longe do meu peso dito “normal”, ganhei mais 5 quilos quando comecei a trabalhar. Estou parada, passo o dia a petiscar. Há sempre doces e chocolates e nunca digo não à comida rápida e doce e fácil. 
E hoje perante a balança, ontem perante a celulite nos joelhos, percebi que tenho mesmo de mudar. E não podendo ainda investir à séria em exercício físico, tenho de me focar em alterações alimentares.

Mas confesso que não sei bem como. 

Já perdi a conta à quantidade de vezes que quis fazer algo diferente, já inventei mil abordagens ao assunto da perda de peso. Cortar radicalmente com a comida é muito eficaz mas neste momento não é opção, com a amamentação e toda a gestão da alimentação da cria. 
O que eu gostava mesmo de fazer as pazes com a comida. Gostava de saber comer menos e fazer mais pausas. Não ceder tanto à fome emocional. Optar pelos alimentos menos calóricos que eu gosto em vez de me empanturrar em massas e arroz e molho. Há espaço para tudo, eu tenho de interiorizar isto, mas não o faço. Ultimamente encosto-me muito à ideia de que já tenho tanto trabalho, já tenho tantas responsabilidades, bem posso comer o que me apetece. E talvez tenha mesmo é medo de mudar, de me comprometer comigo e com o meu corpo.

Mudar custa, mudar não é fácil. Mas eu sei que não posso continuar assim. E sei que não é impossível.

Hoje levantei-me e fiz uma prancha de 30 segundos. Não é muito, eu sei. Mas nunca me permito parar para fazer algo pelo meu corpo, as minhas manhãs são feitas à pressa e a tentar que o Gonçalo não acorde antes que eu faça tudo o que tenho para fazer. Mas hoje ele dormia, e eu parei e fiz a prancha. Uma prancha sempre foi uma forma de observar o meu corpo, de perceber como ele reage e se esforça. Foi uma experiência, e foi interessante. Terei de começar a fazer mais. Mais pranchas, mais tempo, mais exercícios. Roubar espaço das pausas e começar a somar pontos positivos. 

Se quiserem partilhar as vossas experiências, conselhos, histórias da amiga da prima que perdeu 20 quilos, ou dizer-me um entusiasta “go girl”, por favor, façam-no. Tenho de deixar o meu eu acomodado para trás, tenho de me motivar e tenho de me comprometer. Algo vai mesmo ter de mudar. 

Mudar custa. E eu sei que não vai ser fácil. E nunca foi tão difícil como é hoje. Mas tenho de tentar.

(fotos de comida que partilhei noutros tempos no Instagram, porque imagens de comida são sempre boas de ver e rever)

Look up

Hoje fiz o percurso a pé do costume até ao emprego sempre a olhar para cima (e com atenção ao trânsito quando precisava de atravessar ruas e assim, claro).


Normalmente olho para as pedras da calçada, muitas estão fendidas e tortas, penso que são armadilhas potenciais para o transeunte mais desatento. As pessoas passam apressadas. Há barulho das obras e este é provavelmente o lugar mais deprimente de Lisboa para se trabalhar porque só temos avenidas e carros e prédios de arquitectura sufocante. Mas, como na maioria das coisas, nada como mudar um pouco de perspectiva para as coisas não serem tão más. 

 Observar o recorte das árvores contra o céu azul, as nuvens brancas que “voavam” com o vento, a luz do sol matinal a passar por entre os prédios, aligeiraram muito o ambiente opressor deste caminho. A minha mente pairava nesta tranquilidade rara. Os meus dias são governados pelos prazos, pela gestão de horários, pela comida que se tem de fazer, os banhos para dar, os horários de um bebé tramado de dormir e de vez em quando, momentos de paz e tranquilidade que encontro nas páginas de um livro ou numa hora de almoço no jardim aqui ao lado (nem tudo é mau). Por isso faço por aproveitar estes balões de oxigénio diários. Estes bocadinhos comigo mesma que valem pelas horas de sono perdidas e pelo stress diário. E agora bora lá enfrentar o dia.

segunda-feira, 25 de junho de 2018

O que eu quero é escrever

Tenho saudades de escrever, tenho saudades de escrever todos os dias, de partilhar pensamentos e vontades, desabafos e frustrações, alegrias e conquistas. Mas ando estupidamente cansada. Se eu antes me queixava do cansaço? Eu não sabia o que era cansaço! Estamos em 10 meses e uns trocos de bebé, 10 meses de amamentação louca e desenfreada, 10 meses de noites interrompidas, do co-sleeping que sempre quis evitar e agora é incontornável, 10 meses de humores instáveis com as hormonas e a privação de sono como principais motores. 10 meses de (ainda) muito stress na aprendizagem diária da rotina, e de dias surpreendentemente criativos e cheios. 10 meses de muita aprendizagem, muito amor, muito namoro com aquele bebé pequeno que tem tamanho de bebé de ano e meio, que grita  tem vontade própria e tem a gargalhada mais gostosa da área metropolitana de Lisboa (os outros bebés que me perdoem). O bebé cresce, e eu vou aprendendo a ser mãe. Aliás, vou aprendendo a não ser só mãe. Já voltei ao trabalho há alguns meses, já levo a rotina de barato (ou quase), e tudo flui de outra forma. Voltei (na verdade nunca deixei) a ler com mais frequência, coisa que me garantiram que não conseguiria voltar a fazer (e celebrei esse facto comprando uma quantidade pornográfica de livros na wook), levamos o bebé para todo o lado, munidos de comidas e todo o aparato para conservação da mesma (no dia em que puder sair à rua sem esta tralha toda atrás até digo que é mentira), já vou tendo um cheirinho de vida própria e pasme-se, já bebi umas cervejas pretas e voltei a sonhar com ideias e projectos mais loucos. Nada de megalómano, claro, mas levar algo para a frente com o meu muito carente e insone filho é tarefa dura. Para já duas ideias breves… a primeira festa de aniversário do pequeno diabrete, um projecto muito meu e muito handmade (esperemos) e a segunda, voltar ao blog como deve ser. Mas para isso tenho de escrever. Continuar a escrever. Não parar de escrever. Que saudades de escrever!