terça-feira, 15 de junho de 2021

Ansiedade

 Há uns dias quebrei. Desatei a chorar numa tarefa qualquer mundana e um medo assolapado de que o meu filho me morresse encheu-me de uma angústia tremenda. Quando me tornei mãe percebi que carrego em mim todos os medos do mundo, a cada dia que passa sinto que tenho mais a perder porque, confere, passe o tempo que passar, o amor aumenta diariamente. Mas nunca tinha sentido esta angústia paralisante, dei por mim a chorar, a pedir ajuda a amigos e família, a exteriorizar este terrível medo que me comia as entranhas. Fui acalmando. Não controlo tudo na vida e certamente não sei o que o futuro reserva, mas viver assim não é opção. 

ansiedade pânico medo

Photo by Tonik on Unsplash


Não soube explicar a origem dessa dor, dessa angústia nervosa que me tomou de assalto. Continuo a não ter grandes luzes sobre o assunto. Apenas sei que ainda não me reequilibrei. Já tive um segundo episódio dias depois, e hoje, depois de uma manhã surpreendentemente calma e feliz ao entregar o Gonçalo na escola, dei por mim a chegar a casa e a sentir uma ansiedade a crescer no peito e um cansaço extremo ao mesmo tempo. Não estou aqui a rebolar na minha miséria, mas num assomo de consciência compreendo que isto ainda não acabou. 

Falamos tanto de saúde mental e de como andamos tomados de fadiga pandémica e de incerteza no futuro, e eu sinto-me o verdadeiro cliché deste discurso. E custa-me muito compreender e aceitar, mas se calhar está na altura de assumir que "eu não estou bem". Percebo que a morte do meu avô acordou algumas feridas que julgava estarem saradas, e 

Tomei uma série de atitudes e ando a delinear alguns planos: deixei de ouvir uma larga maioria de podcasts de crime, estava sempre a por-me no lugar dos intervenientes (todos), e a tomar as dores deles para mim. Tento não me encher de tarefas (o que é algo difícil na minha posição, mas tenho-me permitido abrandar um pouco sem lesar o trabalho, espero), procuro explorar uma paz inconsciente e tento meditar ou, no limite, parar um pouco para respirar fundo e estabelecer alguma paz.  Vou voltar a ficar sozinha em casa e quero voltar a fazer ioga ou qualquer outro exercício. Mas são planos que seguem com calma e ponderação, não quero piorar a achar que tenho de fazer mais e mais.

Por fim, faço por me rodear de inspiração (que me faça sentir bem e não uma fraude - todo um outro assunto para outro dia) e de palavras de força. Toda a ajuda conta na recuperação. Não estou nos meus dias mais produtivos, o futuro continua a construir-se e o mundo não abranda por nós, mas eu sei que tenho de olhar para mim e me dar algum sossego.

Porque partilho isto num blog que nem sei se ainda é lido sequer? Pois, não sei, só sei que partilhar ajuda. Sei que estas dores não são só minhas, e sei que a ansiedade tem dominado a vida de muita gente. Nunca me tinha sentido tão descontrolada, e imagino que como eu haja muitos. Só queria dizer que, se estás a passar por algo semelhante, não estás sozinh(e/o/a). E após escrever isto posso atestar que me sinto mais tranquila. Partilhar é vida mesmo, mes amigues.

quarta-feira, 2 de junho de 2021

"It's all happening!"

Sempre adorei esta frase icónica do Almost Famous. Apesar de ser um filme que me deixa uma sensação absolutamente melancólica, acho-o um retrato tão interessante daqueles tempos idos dos anos 70, da loucura das bandas e da música e das groupies. Se não viram, fica a sugestão, vale muitíssimo a pena, nem que seja pelos atores fenomenais que por lá andam.

Feito o preâmbulo, queria só aqui deixar estas palavras porque ultimamente na minha vida, ALL is happening. Coisas boas e más, coisas trabalhosas e que me drenam, outras que me renovam a energia. 

Há dias apresentei-vos nas stories do instagram o meu novo projeto profissional. Não é assim tão novo, uma vez que já estou há um ano a trabalhar nele, mas só agora viu a luz do dia e se tornou público, e o trabalho tem sido super intenso. Não me quero alongar muito, talvez um dia escreva mais detalhadamente sobre isto, mas apesar de curto e de ainda não saber o que o futuro reserva, tem sido essencial na minha reconstrução profissional. 

Comecei 2020 deprimida e frustrada por ter arriscado num novo emprego que se revelou ser uma má escolha. Um ano num emprego que me arrasou a vários níveis e me fez avaliar o meu percurso e arrepender-me de tantos passos lá atrás. Por isso, ter sido convidada para participar, e depois ter um papel cada vez mais activo neste projeto, ajudou-me a reconstruir a minha frágil auto-estima. Hoje posso dizer sem grandes hesitações que me sinto capaz, orientada e forte. 

Ainda assim, estou cansada, claro. Como tantos de nós. As consequências psicológicas da pandemia estão a fazer-se sentir com mais força a cada dia. A necessidade de férias, de voltar a separar as águas de casa-trabalho-família, de parar um pouco para só SER eu um bocadinho, de parar de produzir, tudo isto acumula-se em mim, e creio, em todos nós. 

No entanto, acho que tudo isto é bom, tudo é positivo. Estamos a crescer, tudo está a acontecer.