segunda-feira, 26 de junho de 2017

E depois acontecem assim... coisas

Tenho andado com dezenas de planos em mãos para os dias em que ficaria em casa. A prioridade seria sempre preparar tudo para o nascimento do bebé, depois, orientar e preparar algumas coisas em casa, costurar, ler todos aqueles livros que sei que não vou ter tempo para ler quando ele nascer, fazer os cursos online que tenho pendurados, fazer ilustrações espetaculares, escrever muito no meu diário, no blog, e lançar uma nova imagem espetacular para o mesmo, com inauguração com pompa e circunstância e o presidente a cortar a fita com uma tesoura gigante... Mas sabem que mais? 


... A vida nem sempre é como se planeia, e quando detalhamos este e aquele passo, quando os encaixamos em sequência na nossa lista de tarefas, damos conta que nem sempre as coisas seguem os pressupostos iniciais e nem sempre temos energia para as coisas. Subestimei esta fase e na verdade, estou de rastos, ando mais ansiosa do que previa, com muitas insónias, sempre com mil coisas a fazer, a sensação que tudo depende de mim, e muito pouca energia (e mesmo assim já risquei muitos items da minha to-do list), cansada da sensação que não faço o suficiente, de ainda não ter decidido isto ou aquilo, de não ter visitado o hospital, de não ter feito um curso pré-parto (e não quero mesmo fazer um, será que vem mal ao mundo por isto? Mas antes as mulheres não pariam sem cursos e esse tipo de preparações?)... Eu sei que estou rodeada de apoio e óptimas intenções, mas começo a não ter espaço para tudo, e começo a ver a meta e confesso... este desconhecimento do que aí vem assusta-me um pouco. 

Não por ter de tratar de um bebé, de ter um ser dependente de mim, o parto não me faz espécie, nem as provações da amamentação (excepto não poder beber álcool). Talvez seja ingénua, talvez seja egoísta, mas a verdade é que o que me assusta e não saber até que ponto a minha vida vai mudar, até que ponto vou deixar de ter tempo e cabeça para aquelas coisas que adoro fazer e será que vou sobreviver sem elas, por muito que o meu filho venha a ser um ser adorável e por muito que me imagine a passar horas intermináveis a cheirá-lo e a admirá-lo (porque claro que isso vai acontecer). Conto com as hormonas para me fazerem cair de amores pelo pequeno ser que me pontapeia sem dó nem piedade (as we speak) e me façam afastar os receios de me tornar menos eu, de me afundar num mundo de maternidade e domesticidade que não sei se me adequo.

E tudo isto para dizer...
Tenho uma imagem nova no blog. 

Comecei esta manhã devagarinho, com vontade de olhar para isto com olhos de ver, de me organizar e orientar, de talvez por ordem no tasco e isto começou a desenvolver-se para lá do meu controlo e agora já está, sem planos, sem um lançamento adequado, sem pompa e circunstância, apenas a imagem que eu já desenvolvi há uns tempos, um código de cores definido num tirinho, enfim, tudo aquilo que desaconselho e me tento afastar no meu dia a dia. 

(Photo by Clem Onojeghuo on Unsplash)

Claro que não foi tudo à balda e esta preparação já tem alguns meses, mas ainda assim, é interessante ver as coisas a surgir assim do nada. O meu lado control freak está um pouco confuso, mas como vejo em tantos sítios e tanta frase feita... done is better than perfect. Não creio que isto esteja para já terminado, ainda faltam acertar bastantes detalhes e talvez isto ainda vá mudar novamente mas... apeteceu-me tanto começar a usar o meu novo logo, apetece-me tanto que o meu blog tenha uma cara nova ao fim de tanto tempo, e queria que fosse antes do bebé nascer e de eu ser engolida pela maternidade... Não resisti.

Depois de meses de planeamento, listas detalhadas no Evernote, artigos e posts lidos sobre branding, e tanta pesquisa... é isto. Surgiu um pouco do nada, a surpreender-me.
Como a vida aliás. 

Porquê simplificar o nome do blog e passar a ser "A box" (se bem que mais nada mudou)? Porque esta caixa, ainda que minha, é feita de tanta coisa que não sou só eu. Contém os meus pensamentos, desejos, a minha criatividade e alguns sonhos, mas também as influencias dos outros em mim, a vossa energia que me acompanha, e, se pensarmos bem, não será muito diferente das vossas e é mais uma no meio de tantas. Todos guardamos o que nos é mais queridos nas nossas caixas... colecções, fotografias, desenhos, cartas, lápis, sapatos, bolos...
Bem, na verdade talvez não existam caixas, e estamos sempre a tentar pensar fora da dita, mas seja como for... precisamos de um sítio para guardar as ideias no fim do dia. Este é o meu.

Espero que apreciem e me digam o que pensam, está sempre tudo em aberto e eu prometo que não serei (demasiado) sensível às críticas negativas.

sexta-feira, 23 de junho de 2017

Eu apenas, grávida


Como tinha dito por aqui, queria muito tirar fotos "descomplicadas" da minha barriga, e combinei desde o início com a Ana Luísa. Conheço-a há alguns anos, adoro o trabalho dela, confio nela e sei que me iria sentir mais tranquila com ela por detrás da câmara. Não tenho jeitinho nenhum para que me tirem as fotos, e confesso, no início, estava super atrapalhada (e vendo as fotos todas na sequência certa, vê-se bem a evolução do meu estado de espírito e conforto ao longo da sessão), no entanto, do início ao fim não continha um sorriso e uma alegria enorme por fazer este processo com a Lu, ainda mais onde foi.

Encontrámo-nos no LX Factory a semana passada, decidimos que uma sessão num ambiente urbano seria interessante e diferente do cliché dos jardins e da luz filtrada pelas folhas. Este sítio guarda imensas memórias nossas do início da nossa amizade, quando fazíamos as caminhadas ali pela zona, ou eu ia lanchar com ela ao cowork quando ela por lá trabalhava, por isso tinha tudo para nos inspirar a ambas. 

A Lu preveniu-me para não levar demasiados adereços, ao que eu respondi que não tinha interesse nenhum em trazer coisas da criança para a sessão. Não gosto desses artifícios. Na verdade, fui apenas eu, o meu vestido cor-de-rosa e nem me lembrei de trazer sequer uns brincos. Mas acho que isso funcionou a meu favor.  Apesar de me sentir já muito pesada e inchada nesta fase final, sinto-me bastante bem sendo apenas eu, e acho que há fotos que transmitem mesmo isso, eu apenas, grávida. Como ando no dia-a-dia, como me sinto confortável nos dias que correm.

E aconteceu magia. Percorremos todas as fachadas que nos lembrámos, encaixei-me nos grafittis e nos pormenores arquitectónicos, ela procurou a luz e os ângulos mais interessantes. E aquilo que começou por ser uma sessão de maternidade no meio da cidade ganhou contornos artísticos e uma liberdade inexplicável. Ela já nem precisava de puxar por mim, sugeria um recanto, um ângulo e lá estava eu. 

A Lu estava feliz de experimentar coisas diferentes e ambas estávamos mais uma vez, a transbordar de inspiração e alegria com o que tínhamos em mãos. Já não acontecia há algum tempo, e foi bom. 

Há fotos absolutamente espantosas, e eu por vezes ainda me comovo com algumas e com todas as recordações que estão implícitas em cada momento. Há realmente algo poderoso quando fazemos algo de criativo com alguém que nos é chegado, e senti que houve uma energia tão boa e uma sintonia grande naquelas horas. 
Repetiria o processo se pudesse. E ela ainda não voltou para Londres e já tenho saudades imensas desta miúda. Faz muita falta a Lisboa, a Lu. Mas agora o percurso dela é este e não deixo de estar absolutamente orgulhosa e feliz de a ver percorrê-lo com tanta gana e graça. 

Não tenho palavras para agradecer o que ela fez por mim, não só nesta sessão, mas ao longo da nossa história juntas, mas aqui fica o post com toda a minha tosca gratidão. 














(todas as fotos são da incrivelmente talentosa Luísa Starling)

terça-feira, 6 de junho de 2017

O que perdemos pelo caminho

Não sei bem como começar este post, mas tenho de falar sobre isto. Na passada sexta um antigo amigo do colégio contactou-me via facebook. E foi uma agradável surpresa durante para aí uns 3 minutos, até que percebi que o motivo pelo qual ele me contactava era para me informar que uma amiga nossa do secundário morreu. 

Já não falava com a M. há mais de 10 anos, trocava breves comentários no face, ou no dia de anos dela mandava um beijinho e assim ficávamos. A vida afasta-nos das pessoas, é inevitável. Acho que nem eu nem ela lamentámos muito isso, acontece simplesmente. Mas o afastamento nunca determinou que ela não tivesse sido importante para mim. 

Nunca fomos as melhores amigas mas tinhamos um bom entendimento, nos tempos do colégio juntávamos com frequência um grupinho e íamos a casa dela com frequência, seja para passar a tarde, para estudar, para nos arranjarmos para alguma festa, a cadela dela, o ser mais doce que me lembro, era como se fosse nossa também (pesou-me muito quando morreu), saíamos muitas vezes à noite, os meus primeiros fins-de-semana fora foram com ela, foi ela que me apresentou ao Friends, e ainda hoje, quando vejo episódios desta série, lembro-me dela. 
Nem sempre era fácil conviver com a M., ela precisava por vezes de atenção que ninguém compreendia, era sensível e tempestuosa, conseguia ser incrivelmente competitiva com as outras raparigas, mas comigo nunca o foi. Sempre senti que tínhamos uma amizade bastante simples e limpa. Talvez os sinais tenham estado sempre lá, e se calhar todos devíamos ter sabido mais cedo que ela não estava bem aqui. Porque a M. decidiu morrer. 
Ontem foi o velório. Não pude ir porque estava refém do centro de saúde, mas também não sei se conseguiria enfrentar vê-la sem vida. Talvez ela esteja finalmente em paz, talvez aquela inquietação tenha finalmente ido embora quando ela decidiu terminar tudo. 

E quanto a mim, penso nela incessantemente há 4 dias, sem saber muito bem como lidar com a estranheza disto tudo. Prefiro lembrar-me dela como aquela miúda meio rebelde, que foi a primeira a fazer um piercing e tatuagens ainda durante o secundário, que trabalhou num bar e nos dava bebidas à borla, que me acompanhava nas noites de karaoke quando eu (achava que) sabia cantar e me apoiava incondicionalmente, que nos abriu sempre as portas de casa dela e nos deixava sempre à vontade, e que no concerto dos Limp Bizkit (ih pois foi, fomos ver esse!) foi chamada para os conhecer ao backstage apenas por ser uma miúda gira. Foram tão bons tempos, sinto-me tão grata por tê-los vivido com ela. Quero lembrar-me do sorriso e do entusiasmo dela, de como a tornavam mais bonita. Quero acreditar que ela viveu antes de morrer.  Quero não me esquecer.

O ano passado e este ano têm sido anos de perdas duras. O meu mundo vai mudar e vem aí uma pessoa nova em folha (entre tantas que vão nascer ou já nasceram este ano). Faz parte, as gerações renovam-se. Fico com tanta pena de ver tantos a perderem-se pelo caminho, de não poder viver tudo isto com elas por cá. Parece que crescer é isto, mas gostava mesmo que abrandasse o ritmo durante uns tempos. Anda a ser duro demais.

sexta-feira, 2 de junho de 2017

Coming home

Hoje foi o meu último dia de trabalho. Vou finalmente para casa usufruir de algum descanso pré-bebé, talvez um pouco mais cedo do que o previsto inicialmente, e a verdade é que me deparo com uma dualidade interessante dentro de mim. 

Sinto necessidade de justificar a toda a gente porque vou para casa tão mais cedo do que o esperado, como se tivesse vergonha ou fosse preguiçosa por o fazer. 
Não preciso. Eu até podia não estar podre de cansada, a sofrer com as poucas horas de sono, com as dores de costas e todos os sintomas menos românticos da gravidez, que podia parar e ir descansar se me apetecesse. Mas a verdade é que padeço destes todos e mais uns quantos, e cheguei a um ponto em que sinto que não consigo esforçar-me mais. Especialmente quando dei por mim mais do que uma vez com a sensação de que não estou em condições para conduzir. É assustador.
Fiz por e organizei-me para poder ter este “benefício”, porque de facto o ano passado ia rebentando a cabeça com o excesso de coisas por pensar e fazer. E como o ano passado aprendi que tenho de ouvir o meu corpo e não quero testar os limites, vamos tentar começar em vantagem e gozar de algum sossego antes da criança me vir virar a vida do avesso por todos os bons motivos.

 Eu sinto-me mais confortável com esta decisão. E não acho que me vá aborrecer por ficar dois meses sem nada que fazer (pois, como se isso fosse possível).

Há sempre teorias para tudo no que toca a gravidez e a opinar sobre as decisões das mães de ficar ou não em casa. As pessoas não têm de fazer tudo igual. Cada um decide como se sente mais confortável. E não deverão haver julgamentos. Especialmente meus. 

Desenganem-se se acham que vou estar os dias inteiros refastelada no sofá a devorar tudo o que aparece no Netflix. Há muitas coisas que quero e preciso de fazer. Tenho uma lista imensa de preparativos para a chegada do meu miúdo, coisas por montar, por arrumar, por lavar. Malas de maternidade por fazer. Outra lista de coisas que quero arrumar, limpar e orientar em casa. Quero também fazer algumas coisas à mão para o quarto das crianças, e outras tantas por mim e para mim. E ler e escrever e desenhar muito. Fazer caminhadas e também aproveitar toda a praia que puder. 
E claro que vou percorrer a minha wishlist do Netflix, porque é óbvio que vou estreitar a minha relação com o sofá de vez em quando.

Em breve a minha vida vai mudar e ainda não sei muito bem como. Por isso nada como usufruir destes dias mais meus, dedicar-me efectivamente a esta coisa do nesting, e também a tirar algum tempo para ser apenas eu (ou assim espero). Porque sei que durante uns tempos apenas serei mãe. 

Estou entusiasmada e feliz. Toda uma nova fase começa a partir de agora, há uma sensação de finalidade grande nisto e ainda bem.  É estranho e um pouco assustador, mas o entusiasmo ainda prevalece. Tudo se torna mais real. 



(e quando escrevi este post, ainda não tinha acontecido, mas não podia deixar de comentar que ainda tive direito a uma despedida surpresa no trabalho, com direito a bolo de chocolate e a mimos dos colegas. Soube muito bem ser acarinhada por todos, apesar de detestar ser o centro das atenções. Que comece a contagem decrescente!)