Agosto está a ser um mês surpreendentemente calmo. Os dias desenrolam-se ágeis e tranquilos. Está a ser um mês lento e rico. Depois de uma semana nas paisagens da minha infância e de tensões familiares meio loucas por sermos tantos numa casa só, a verdade é que deixou saudades e uma melancolia muito forte. Regressei com a sensação que nunca deixei de ter 16 anos, mas com a vida de uma mulher de 39 que, no regressar de férias está ainda mais caótica do que quando partiu.
Pensei que me ia afogar quando, na segunda quinzena ficasse entregue à casa e ao miúdo (nas férias da escola), a tentar dividir mal e porcamente o meu tempo entre trabalho e filho (e algumas lidas domésticas básicas, tipo arrumar a loiça da máquina e fazer as camas).
Mas optei por me render, e não sei, tem corrido bem. Alguns dias mais acelerados, mas no geral a coisa decorre a um ritmo razoável e suportável. Consigo ter momentos de trabalho com o Luccas Neto como pano de fundo, gerir as birras e pedidos de atenção do meu filho, manter os mínimos da produtividade a decorrer, e ainda dedicar-me o suficiente ao pequeno de uma forma tão calma e fluída como nunca tinha sido possível antes. Nunca fui uma mãe descontraída, mas ando a aprender a sê-lo, e a compreender que posso mudar a minha narrativa a meio da história se quiser. É incrível o que acontece quando aceitamos as coisas inevitáveis e as encaramos de frente.
Um dia, com calma talvez vos fale que nos últimos dois, três meses me tenho dedicado com todas as forças ao autoconhecimento e exploração de mim mesma. Tive alguns picos complicados de conflitos mas quando liguei os pontos fez-me imenso sentido e abriu imensas fronteiras que julgava bem delimitadas, dentro de mim. E ajudou-me bastante a levar estes dias com mais leveza e tranquilidade, se bem que preciso urgentemente de tempo para mim e para escrever. Só falta uma semana (fingers crossed!)
Mas, o que queria muito falar neste post, foi o incrível fluxo de entretenimento rápido que devorei em pouco tempo e soube tão bem entregar-me à leitura, às revistas, ao desenho e à netflix com tanta tranquilidade enquanto navego os afazeres.
Este mês li tanto, tão rapidamente, ando entregue a boa ficção e a boa leitura auto-exploratória - terminei o livro da Holistic Psychologist (com a pior tradução de título de sempre, mas com muito boa informação) - como já não me lembrava de o fazer. Devorei o "Biblioteca da meia-noite" maravilhada com a forma bonita e simples como o autor transforma a previsibilidade da mensagem numa história intrincada que nem sempre desvendamos o desenrolar; li não sem alguma angústia o "A minha irmã é uma serial killer", entre passagens divertidas e expectáveis, havia momentos de pura dor e humanidade tão intensa que me levaram a voar pelas páginas. Por fim, estou a ler também a boa velocidade o "Pessoas Comuns", que vi no instagram da tradutora,Tânia Ganho e a reflexão que fez acerca do mesmo me deixou curiosíssima e está a valer muitíssimo a pena (dois superlativos, é mesmo um bom livro).
Devorei numa semana todas as temporadas do Workin Moms, que a Rafaela referiu na newsletter da YellowLand. A premissa parecia interessante e de facto não resisti a um binge louco desta série. Há algo de nonsense nas vidas daquelas mulheres e ao mesmo tempo é facílimo identificar-me com os traços de algumas personagens. O que gostei aqui particularmente, é que, à semelhança de outras séries icónicas com o foco em mulheres mais velhas, as personagens envolvem-se em esquemas e mentiras para resolver situações a seu favor, mas de uma forma mais leve e realista. No Donas de Casa desesperadas (que adorava, BTW) eles levavam tudo até às últimas consequências e eu enervava-me com tanta shadyness, o que não acontece aqui. Há tentativas de ajustar as narrativas à vida de cada uma, mas depois há choques bem mais realistas que obrigam as personagens a manter-se mais honestas. Adorei mesmo, e já aguardo a 6ª temporada com expectativa.
Agora vejo o Emily in Paris, que tem críticas razoáveis sem aspirar a ser uma obra prima, e tem sido uma viagem boa, que me enche de vontade de viajar de verdade, e já agora, de refrescar a minha abordagem às redes sociais (no que toca ao trabalho, ok?).
Fun fact: já aterrei mais vezes em Paris do que em qualquer outro sítio e nunca, nunca fui visitar a cidade. Estranho não é?
Estou a adorar este revisitar de séries só minhas na Netflix, enquanto devoramos também séries ou documentários de crime em família ou a miúda enche a lista de séries adolescentes. Tentei espreitar o The Bold Type mas malta, aquilo não é para mim, é demasiado oco e as personagens são todas iguais (e igualmente desinteressantes, a meu ver). E já estou a saborear a ideia de fazer um binge-watching das Gilmore Girls do início ao fim para aproveitar o outono.
Fora os livros, aproveitei para um pequeno investimento em revistas que queria muito ter: a Uppercase, a Cunning Folk (sugestão na newsletter da Cat) e mais uma edição especial de papel da Flow, tudo comprado na Under the Cover que tenho de ir urgentemente visitar ao vivo e a cores. Ainda não comecei a leitura mas já aprecio muito que ali estejam em destaque na sala para lhes deitar a unha sempre que possível.
Se chegaram ao fim deste post, obrigada pela paciência, mas sabe bem rever as coisas refrescantes que me têm animado os dias. Não sei quanto tempo durará este sentimento de tranquilidade desta slow-living, mas estou a gostar da viagem e não podia deixar de partilhar.
Que o vosso Agosto esteja a ser tão prazeroso como o meu!