terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

Die, diet, die


Desde que me tenho como gente que a palavra dieta faz parte do meu vocabulário. Felizmente não (logo) por minha causa, mas pela minha mãe. Vi-a experimentar um pouco de tudo, em constantes dietas, a tomar comprimidos, batidos, a ir a este ou aquele médico, a desistir ao fim de menos de um mês. Este era o comportamento normal. Estar em dieta, estragar a dieta, procurar a próxima dieta. O normal para muita gente.

Eu, com 14 anos comecei a ficar gordinha. Talvez tenha sido aquela fase de mudança corporal da adolescência, mas lembro-me bem da minha médica me dizer que eu precisava de perder 3 quilos. E a partir daí começou toda uma nova fase da minha vida em que eu percebi que tinha de controlar o que comia para poder sentir-me mais digna. Lembro-me bem de me sentir tremendamente reduzida a nada porque era a gordinha. E lembro-me de pensar que talvez esse fosse o meu passaporte para finalmente ser notada, reconhecida. Não sendo eu uma rainha da popularidade, isto era assim uma coisa com algum destaque na minha vida. E assim foi, desde aí.

No entanto, nunca me senti muito confortável. Nunca levei muitas dietas a fundo, nunca gostei muito desta coisa da escravidão na comida, até porque a cada dieta, a contenção fazia depois o efeito oposto, e dava por mim a comer mais do que devia, daquilo que não devia comer, a massacrar-me por não ter força de vontade nem controlo sobre a comida. Muitas vezes olhava-me ao espelho e não achava que fosse assim tão gorda, outras, tudo era gordura e celulite. Basicamente um ciclo de tormento e culpa.

Percebi recentemente que, mesmo numa fase em que me alimentei "melhor", em que fiz dietas e até fiquei bastante tempo num registo dito "saudável", que nunca fui tão magra como gostaria. Aliás, a única vez que fui assim magra, foi precisamente numa fase em que me sentia uma merda, e de facto estava elegante e esguia, mas tinha as omoplatas a sairem das costas, o externo seco, perdi mamas e pasme-se, continuava com perna gordinha, portanto nunca iria ser uma Gisele Bündchen da vida. Não há nada de mal em querer perder algum peso, em querer seguir um estilo de vida saudável, em querer estar bem comigo mesma. Mas não sei se é uma dieta que vai conquistar isto. E chego a uma inevitável conclusão...

Eu não quero fazer dieta! 
Percebi isso depois do Gonçalo nascer, com a amamentação, com as mudanças a que o meu corpo teve de se ajustar. Epá, não me apetece! E assim dei-me permissão para parar de pensar em dieta. Maaaaaaas... neste último ano senti que perdi muito o controlo do que como, e percebi que algo mais está errado. A minha relação com a comida está muito deteriorada. Vejo tudo como comidas boas e más, sinto-me culpada ainda, continuava a ter episódios de comer este mundo e o outro. Portanto, estava na mesma, apenas não estava num plano alimentar, porque a culpa e a vergonha ainda estavam lá.
Pensei em consertar isto tudo com outra dieta, mas para além de não me sentir bem a limitar o que como ainda estou a amamentar e não sinto que o deva fazer, para além de que, tendo de fazer ainda comida à parte para  miúdo (por pouco tempo, felizmente, ele já come quase tudo o que comemos), não me ia meter a braços com mais um prato à parte para mim. Mas, acima de tudo, continuava com a estranha sensação que isso não vai funcionar comigo.

E começou de uma forma muito simples e sem grande intenção, comecei a ler sobre motivação, sobre amor-próprio, porque se queria uma mudança, queria que ela viesse de um lugar de amor e não porque estou em luta comigo mesma. Queria acalmar os meus conflitos primeiro. Aos poucos tenho descoberto, de uma forma muito orgânica pela internet fora, algumas pessoas que falam destes assuntos de uma forma que me faz sentido. Comecei a ler e a informar-me, a acenar lentamente que sim aos artigos cientificamente fundamentados que as dietas não funcionam e que andamos a lixar o nosso sistema há décadas. Se já antes admirava modelos plus-size e outras activistas do positivismo corporal, encontrei pessoas ainda mais activas nas redes sociais, na imprensa, e em blogs, que exploram ainda mais o tema e preconizam uma quebra neste ciclo interminável de ódio e guerra com o próprio corpo, e agora estou plenamente convicta que há outro caminho a seguir. O da aceitação, da permissão, da compaixão.

Quero aprender sobre alimentação intuitiva, quero saber gostar de mim, quero quebrar o ciclo e sentir paz.
E acreditem, não é fácil, não é um caminho linear, não é acordar e decidir e já está. Também exige trabalho e muito exame de consciência.  Mas há algo neste caminho que me entusiasma. Ao contrário da ideia de trabalhar em mais uma dieta, a ideia de pegar em mim e ouvir o meu corpo dá-me ânimo. Não sei ainda se e quando vou conseguir, mas ainda só estou a começar.

Por aí também lutam muito convosco mesmas? Já pensaram seguir este caminho? Tenho muitos recursos que tenciono partilhar em breve, mas gostava muito que me contassem o que pensam sobre estes assuntos.

4 comentários:

A TItica disse...

Gostava de perceber mais sobre o assunto... Não gosto de dietas mas não gosto do peso que tenho, talvez aceitar não seja o meu caminho não sei, pois com o peso vem muitas vezes a falta de dinamismo e energia, mesmo que venha alegria mental, quero me sentir bem também quando me mexo.

Analog Girl disse...

Este é um assunto muito complicado de explorar e aceitar. Deixar as convenções de peso ideal e uma vida de cultura de dieta para trás? Será que é mesmo possível eu sentir-me bem sem dietas e sem controlo? Não vou abusar e enlouquecer e comer este mundo e o outro? Há muita gente que garante que sim, e têm todo um background e credenciais para me fazer crer que esse caminho é pelo menos válido.
Na verdade, eu já ganhei algum peso com as últimas loucuras, mas não posso continuar a manter um ciclo que me causa ansiedade. Estou mesmo a ficar alérgica à palavra dieta, não quero mesmo entrar numa de restrição louca, apenas quero equilíbrio. Será que confiar no nosso corpo é assim tão descabido?
Não me parece.

Em breve vou partilhar os recursos que me têm feito reflectir nisto.
E acredita, ainda não estou completamente convencida, mas sinto que tenho de dar uma hipótese a isto, porque não encontro nenhum outro que me faça sentir minimamente entusiasmada e intrigada como este. Pelo menos tenho de dar uma hipótese...
Estamos todas constantemente numa luta de aceitação e acho que merecemos uma pausa...

kate disse...

Partilha os recursos, se faz favor :) estou muito curiosa e interessada :)

Analog Girl disse...

Claro que sim Kate, já ando a preparar um post para breve! ;)