“59 anos. Estou tão velha. E gorda. Ainda ontem tinha a tua idade e dizia que estava velha.”
Eu consigo ouvir-te ainda. Queixavas-te que estavas velha sempre que fazias anos. Posso imaginar toda a nossa conversa ao telefone. Não ias querer pensar em celebrar, mas aceitavas o carinho que tivéssemos para te dar. Iriamos jantar. Talvez lá em casa para poderes gozar o teu neto como deve ser e ele poder dormir cedo como gosta (e acordar meia hora depois porque não gosta de dormir sozinho). Ias abrir presentes, atrapalhada, e sorrias o teu sorriso.
Até acho que sei o que gostaria de te oferecer hoje. A biografia da Michelle Obama, porque sei que ela é o teu tipo de mulher e ias adorá-la. Também sei de séries, filmes e músicas que queria ter partilhado contigo, e acredito que ias adorar algumas delas.
Às vezes imagino como serias nos dias que correm. Terias facebook e um smartphone? Faríamos videochamadas nas férias e teríamos trocado milhões de mensagens no whatsapp quando estava sozinha no hospital e o Gonçalo na incubadora. Precisei tanto de falar contigo, mas acho que ias chorar mais do que eu, se bem que te armarias em forte para mim.
Virias visitar-me todos os dias como o pai e dar uma mãozinha a organizar o fim do meu dia? Encherias o Gonçalo de beijinhos e já lhe terias inventado mil alcunhas tontas, estou certa.
Explicavas-me as coisas que eu não soube entender e que agora já percebo. Partilharíamos experiências e acalmarias o meu coração quando perco a paciência, ou a razão, ou o juízo. Ias adorar o Vítor porque ele tem qualidades que valorizas muito. Sei que ele te faria rir como me faz a mim. Aposto que o Gonçalo iria gostar do teu colo e dar-me-ia mais descanso.
Aposto que a família seria tão mais unida se cá estivesses.
Faríamos o Natal lá em casa e eu ia ajudar-te a cozinhar.
Provavelmente serias mais gordinha. Mas eu ia desafiar-te para caminharmos no paredão e apresentava-te os conceitos de positivismo corporal e alimentação intuitiva que estou a adorar explorar e obrigava-te a desistir das dietas e apresentava-te tostas de abacate com ovo escalfado e manteiga de amendoim com banana.
Aposto que tu e a Mariana dariam muitas turras, porque ela é teimosa como tu. Acho que ias rebentar de orgulho dela, porque ela é forte como tu.
Já há tanto tempo que estás longe, este é um exercício que normalmente recuso, porque parece que já não faz sentido e só serve para me magoar. És o maior “e se” da minha vida.Mas ainda és o meu refúgio, o meu farol, o meu peso e medida. As tuas palavras ainda me pautam as reacções, os teus valores são os meus. Mas hoje apeteceu-me navegar neste mar hipotético. Hoje é o teu dia. O mundo ficou tão mais rico quando apareceste. E sentimos todos a tua falta. Hoje e sempre.
Parabéns, mãe.
4 comentários:
Não recuses este exercício. Ela é parte de ti, é o teu farol, como dizes. Deixa que assim seja.
Um abraço enorme e um beijinho!
Um beijinho muito grande! (Fiquei cheia de cenas nos olhos)
Obrigada meninas <3
Beijinho especial nesse coração.
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